Ah, os músicos malditos da música brasileira. A peculiaridade de seus trabalhos os torna verdadeiramente marcantes. Ícones “malditos” como Itamar Assumpção, Walter Franco e Arrigo Barnabé permeiam a essência do trabalho de Helena Sofia e A Música Perturbada Brasileira.
Seu primeiro álbum, Desejo Canibal, lançado em 2014, foi gravado de forma independente. Helena Sofia, a persona por trás o projeto, estuda música desde seus seis anos de idade. A experiência com o piano, baixo e acordeom são cruzadas com o rock and roll, criando uma sonoridade ímpar, com muitas doses de ironia e um humor bastante ácido, o que pode acabar causando um certo estranhamento ao ouvinte. Contudo, é essa opção estética que dá um caráter muito particular à sua música.
Helena trabalhou as composições de Itamar Assumpção em parceria com a poeta Alice Ruiz em sua dissertação de mestrado em Música, na Universidade Federal do Paraná, e ele e os demais compositores da chamada Vanguarda Paulista têm muita influência no trabalho da cantora. Quem já assistiu a Sofia Helena e A Perturbada Música Brasileira no palco sabe que a voz encantadora de Helena ganha peso com sua força interpretativa, uma entrega quase teatral, criando um contraste interessante entre delicadeza e força.
Desejo Canibal é um disco com uma grande carga experimental, resgatando bons elementos de subversão e contrapropostas pregados pela Vanguarda Paulista e que até hoje ecoam pela música popular brasileira.
Desejo Canibal é um disco com uma grande carga experimental, resgatando bons elementos de subversão e contrapropostas pregados pela Vanguarda Paulista.
Helena Sofia flutua entre Tetê Espíndola e Língua de Trapo, Grupo Rumo e Arrigo Barnabé, provando que ainda é possível propor formas distintas de composição, partindo de elementos diferentes, estranhos, esquisitos e engraçados. Há um gene popular trazido por Helena que desvia a obra de ser excessivamente cult, reservado, abusando de uma agressividade musical aos ouvidos menos tolerantes.
Acompanhada pela A Perturbada Música Brasileira, eles incluem elementos eletrônicos à sua performance de forma a criar uma viagem musical e sensorial. E, por sorte, isso não é um desejo que fica apenas no discurso. A maior de suas qualidades talvez seja ter abraçado bem a ideia da Vanguarda. Mesmo que o movimento não seja um ritmo específico, é possível notar várias características estéticas que provocam o reconhecimento das referências, entre eles as construções dos arranjos que formam as canções que estão no disco e a postura da artista. Não há um modelo, mas são evidentes as boas fontes em que Desejo Canibal foi beber. E é isso o que cria uma excelente expectativa para o novo trabalho da Helena Sofia e A Perturbada Música Brasileira que está sendo produzido.