O Weezer chega ao Parque Ibirapuera no próximo domingo, 2 de novembro, como se não tivesse envelhecido — e, de certa forma, é verdade: a banda continua a exercer sobre plateias uma mistura rara de melodia pop imbatível e um verniz de deslocamento emocional que soou estranho em 1994 e hoje soa deliberadamente familiar. Formada em Los Angeles em 1992, a banda — no núcleo reconhecível desde 2001 composto por Rivers Cuomo (voz e guitarra), Patrick Wilson (bateria), Brian Bell (guitarra) e Scott Shriner (baixo) — construiu uma carreira que oscila entre o cult e o blockbuster.
É sobre esse grupo que paira, para muitos fãs, o peso do The Blue Album: autointitulado e lançado em 10 de maio de 1994, o disco foi produzido por Ric Ocasek (do The Cars), que deu ao som cru da banda uma clareza pop que permitiu às canções atravessarem o ruído grunge da época.
O Blue Album não foi apenas bem executado: foi calibrado. Canções como “Buddy Holly”, “Undone — The Sweater Song” e “Say It Ain’t So” condensam um talento raro — refrões instantâneos e letras que trocam a pose do roqueiro por confissões constrangedoras e, às vezes, hilariantementes honestas. O videoclipe de “Buddy Holly”, dirigido por Spike Jonze e inserindo a banda no universo televisivo de Happy Days, explodiu a visibilidade do grupo e rendeu à peça reconhecimento massivo da MTV.
Do ponto de vista comercial e simbólico, o disco se transformou numa evidência: além de figurar entre os álbuns essenciais dos anos 1990, acumulou certificações e vendas robustas — estimativas apontam por volta de 3,3 milhões nos EUA e cerca de 15 milhões mundialmente (números compilados por veículos e arquivos discográficos até 2009 e referenciados por retrospectivas posteriores). Mesmo quando as cifras são discutidas, o consenso é que o Blue Album permanece o ápice comercial da banda.
O que se pode esperar, portanto, não é apenas nostalgia: é um setlist que alterna hinos pop e momentos de crueza emocional, executados por um grupo que transformou a vulnerabilidade em espetáculo comercial.
Musicalmente, o disco é um estudo de contraste: guitarras poderosas em uníssono com harmonias pop quase surf — uma combinação que deve muito tanto ao legado dos anos 1960 quanto à estética alternativa dos 1990. A balança entre melodia e amargura emocional abriu caminho para gêneros subsequentes (pop-punk, emo) que beberam avidamente dessa fórmula.
Rivers Cuomo, figura central e arquiteto das letras, tornou-se também um enigma público: entre turnês e colaborações, interrompeu a carreira para estudar em Harvard — fato que contribuiu para a aura intelectual e obsessiva que cerca sua escrita (ele se formou posteriormente). Essa atipicidade apenas reforça a imagem do Weezer como banda de contradições — nerds que escrevem hinos.
O show no Indigo Apresenta integra a turnê sul-americana que passa por Buenos Aires e Santiago. Para o público brasileiro, é uma oportunidade de ver o Blue Album — frequentemente executado na íntegra em turnês comemorativas — ao lado do catálogo que transformou a banda numa instituição cultural curiosamente afetuosa.
O que se pode esperar, portanto, não é apenas nostalgia: é um setlist que alterna hinos pop e momentos de crueza emocional, executados por um grupo que transformou a vulnerabilidade em espetáculo comercial — e que faz disso sua vantagem estratégica. Para quem foi adolescente em 1994, há conforto; para quem nasceu depois, há uma sequência de melodias projetadas para grudar — e, finalmente, para todos, resta a pergunta que o Weezer sempre soube explorar: até que ponto o rock pode ser, sem ironia, honesto?
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.






