Músicas positivas para pessoas negativas. Peço desculpas ao grande Frank Turner, mas vou usar o título do último disco dele para falar sobre um outro projeto roqueiro atual. Na pegada de criar hinos feitos para serem gritados a plenos pulmões, com letras sobre voltas por cima e gritos de liberdade, o Japandroids virou um dos queridinhos da nova cena do rock no começo dessa segunda década do milênio.
O duo canadense formado por Brian King e David Prowse chegou na música com os dois (quatro?) pés na porta com Post-Nothing (2009) e depois se consagrou em Celebration Rock (2012). Dois discos que foram o mais perto que o rock chegou nos últimos dez anos do barulho e pancadaria nas guitarras que deu tão certo com o Death From Above 1979 em 2004. Celebration Rock foi extremamente elogiado pela crítica e fez bastante sucesso com o público também, com a sua mistura de punk rock atual com algo meio clássico na linha Hüsker Dü ou The Replacements.
Cinco anos depois, os canadenses abrem 2017 com um novo disco que, logo na impressão inicial, mostra que não tem fôlego para repetir o feito dos álbuns anteriores. Near to the Wild Heart of Life é o primeiro trabalho do Japandroids fora da gravadora Polyvinyl, agora lançado pela ANTI-, selo irmão da Epitaph Records. O duo tenta repetir o estilo, mas parece ter um freio puxado ou uma certa preocupação estética que tira os ruídos e toda a pancadaria dos trabalhos anteriores. Em momento algum há aqui uma explosão como “The House That Heaven Built” ou “The Nights of Wine and Roses”, provavelmente as duas maiores canções do Japandroids até hoje, ambas de Celebration Rock.
O duo tenta repetir o estilo, mas parece ter um freio puxado ou uma certa preocupação estética que tira os ruídos e toda a pancadaria dos trabalhos anteriores.
“No Known Drink or Drug”, a penúltima faixa de Near to the Wild Heart of Life, é talvez a que chega mais perto de empolgar o ouvinte no mesmo nível dos sons anteriores da dupla. E isso vem depois de meia hora quase entediante e com os sete minutos péssimos de “Arc of Bar”, uma tentativa de misturar algo eletrônico ao rock numa linha meio Kasabianesca. A faixa que dá nome ao álbum e abre o disco tenta explicar um pouco o clima, em um sentimento coming of age sobre sair da cidade natal e ir à cidade grande arriscar coisas maiores. É uma boa música que até tenta mostrar toda a rapidez que esperamos do Japandroids, mas nem de perto tem a força para, como falei no parágrafo inicial, ser cantada em forma de hino a plenos pulmões como as que iniciavam os outros dois discos da banda.
Os três discos de estúdio do Japandroids têm oito faixas e 35 ou 36 minutos de duração. A banda é direta, rápida, forte, sem firulas e com muita atitude e boas letras, isso é inegável. Mas as pedradas de antes agora parecem envoltas em uma certa sobriedade que impede o disco de fazer o coração bater mais rápido e o pé mais forte no chão. Depois de dois grandes acertos, os canadenses dão o primeiro tropeço na discografia.