Os anseios da vida de adolescente são diferentes dos da vida adulta, ainda que no caminho entre um momento e outro eles possam se cruzar. Por mais que não seja raro, não chega a ser costumeiro que o ímpeto e a energia demonstrados durante o período de juventude extingam com o passar dos anos. Sendo assim, não há exagero em dizer que o rock e suas vertentes encontrem refúgio no sangue fervilhante das novas gerações, que volta e meia nos mostram que é possível renovar o gênero não apenas com juventude, mas também com novas formas de enxergar a música e tudo que se envolve com ela. Esse pensamento vem à mente enquanto converso com Luiz Spíndola, a persona por trás do projeto Transporte Passivo.
Do alto de seus 18 anos, Spíndola investe em uma sonoridade que mescla o shoegaze e o dream pop com influências neo-psicodélicas. Se as vertentes têm mais idade que o músico, em nada impacta na maturidade de seu som. “A Transporte Passivo é simplesmente o projeto de gravação de músicas no meu quarto, mas que apesar de ser apenas eu cuidando da parte musical, inclui de certa forma amigos próximos que me inspiram e ajudam”, conta Luiz, em entrevista concedida direto de Brasília, para onde se mudou para cursar a universidade. “Transporte Passivo é um modo que as células absorvem substâncias e eu relacionei isso diretamente ao que estava fazendo: absorvendo as influências e acontecimentos ao meu redor e transcrevendo-os em música”, completa o músico, não sem antes emendar uma brincadeira a respeito do nome de seu projeto. “Posso estar completamente enganado, justamente porque parei de estudar citologia para fazer música”.
‘Gravo porque me relaxa e me dá a sensação de estar criando algo bacana e sendo útil.’
Radicado em uma cidade com enorme histórico na música brasileira – maior, inclusive, que a costumeira associação ao rock dos anos 1980 –, Spíndola ressalta o velho problema da música autoral no Brasil, também presente em Brasília. “Arrisco-me em dizer que não é um lugar ruim para fazer música, mas as obras autorais ainda não arrecadam tanto quanto uma banda cover”. Enquanto selos como Chezz Recs e espaços como o Teatro Dulcina (mais uma obra com assinatura de Oscar Niemeyer na cidade), “que estão sempre abrindo espaço pro som autoral”, procuram fomentar a cena local, Luiz segue compondo suas canções e gravando seus EPs (Transporte Passivo e Transporte Passivo II), estabelecendo teias e pontes de diálogos entre referências como My Blood Valentine e John Frusciante. “Tento transferir para minhas músicas elementos de tudo que gosto de escutar para poder criar uma sonoridade particular que me agrade”, cita.
Das características tipicamente da juventude, o desapego à rigidez e às regras de uma carreira que se prenuncia são as mais evidentes, especialmente quando o músico explica como lida com a música nessa face tão inicial da vida adulta: “Gravo porque me relaxa e me dá a sensação de estar criando algo bacana e sendo útil”.
Tocando sua, ainda, breve carreira na base do faça você mesmo, Spíndola vê na “solidão” de seu trabalho musical a chave para concentrar-se em fazer o melhor. “Muitas vezes me vi por horas e horas sozinho no quarto sem falar uma palavra sequer, mas com total controle sobre timbres, arranjos e tudo referente à estética da música”, comenta. “No final das contas, tudo se resume a usar o que está no seu alcance e contar com um pouco de sorte”, finaliza o jovem cantor, que fica como mais uma prova viva de que o rock sempre renasce – e se reinventa.
NO RADAR | Transporte Passivo
Onde: Brasília, Distrito Federal.
Quando: 2014.
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