A força da música estadunidense é tão grande que dificilmente levantamos o ouvido para ouvir canções feitas em outros país. Contudo, artistas como Brimheim são a razão de uma coluna como esta existir. Dinamarquesa, a cantora lançou em janeiro deste ano can’t hate myself into a different shape, seu primeiro álbum completo.
O registro vem na esteira de um EP, Myself Misspelled, publicado durante a pandemia, que dialoga com sua carreira e com sua própria vida. Quem ouve suas canções, capta a maneira como a artista, através de vocais cristalinos e instrumentação bem orquestrada, entrega muita convicção no que canta.
Brimheim fala de amor sob diferentes perspectivas, mas centraliza suas composições em um tipo muito específico: o amor próprio. Em sua participação no canal do YouTube da rádio KEXP, durante evento realizado pela emissora na Dinamarca, a cantora falou sobre sua luta com a depressão.
Ainda que can’t hate myself into a different shape não trate diretamente sobre uma luta por se reerguer, o tom confessional impresso por Helena Heinesen Rebensdorff, a pessoa por trás da persona, ajuda a compor essa torrente emocional impressa nos versos e nos riffs.
É impossível não notar, ainda, a influência de certos estereótipos apontados aos nórdicos. Seja na escolha de seu nome artístico, homenagem às suas raízes nas Ilhas Faroé, território pertencente à Dinamarca, que pode ser traduzido como “lar das ondas que quebram”, seja na narrativa que por vezes parece evocar uma introspecção, um isolamento de quem vive fechada em si.
https://www.youtube.com/watch?v=v2ahdshq1WY
Essa estética meio crua e confessional denota alguém que deseja transformar a escuridão em alegria, a dor em algo bom e tangível.
A melancolia que deixa escorrer da autenticidade e honestidade com que se expressa pode encontrar eco em artistas como Radiohead, que diz muito mais respeito à maneira como Brimheim se apropria do que a inspira do que o sequestro de características que não lhe digam respeito.
É o que torna suas composições passeios etéreos fechados dentro de cada ouvinte, como se reproduzíssemos seus tons e cores também introspectivamente. Essa estética meio crua e confessional denota alguém que deseja transformar a escuridão em alegria, a dor em algo bom e tangível.
É curiosa enxergar em Helena a fã confessa de Avril Lavigne, menos quando você assiste ao clipe de “hey amanda”. A nítida inspiração desmistifica a ideia de sisudez nórdica, ainda traz diferentes cores e nuances ao que poderia ser visto como sombrio e gótico.
Não dá para dizer que can’t hate myself into a different shape é um disco pandêmico, no sentido de ter sido produzido neste recorte histórico, assim como não dá pra afirmar que, por mais que digam muito respeito à luta da artista em se entender om seus próprios sentimentos, as canções sejam de alguém no buraco que pode ser uma depressão.
Há muito o que se enxergar na artista, porque suas camadas estão ali, oferecidas em cada canção. Brimheim resgata esta coluna após quase dois anos sem publicação, mas também é peça no reencontro com o prazer de descobrir uma nova artista digna de nossa atenção.
NO RADAR | Brimheim
Onde: Ilhas Faroé, Dinamarca;
Quando: 2020;
Onde: Site | Facebook | YouTube | Instagram
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