Em maio de 1958, Jerry Lee Lewis lançava seu compacto “Breathless”, e a bolacha estourava nas paradas. Lançado pouco antes, “High School Confidential” ganhava grande atenção do público. Enquanto tudo isso acontecia em favor da carreira do Killer, Elvis estava no exército. Assim, aos 22 anos, Lewis estava prestes a se tornar o rei do pedaço.
Havia uma turnê de 30 shows em 37 dias na Inglaterra agendada, o que com certeza seria suficiente para consolidar o nome do roqueiro no mainstream. Porém, cinco dias depois de chegar a Londres, Jerry Lee Lewis seria obrigado a voltar aos EUA, com todas as apresentações canceladas. O motivo? Lewis respondera ao questionamento sobre a criança que o acompanhava à Inglaterra com um “é minha esposa, Myra Gale, e ela tem 15 anos”.
Seis anos se passaram e, em 1964, a carreira de um dos astros mais incendiários do rock’n’roll estaria quase acabada.
Descoberta a real história, Myra não tinha 15, mas 13 anos, o escândalo foi inevitável. Todos queriam a deportação do cantor. “Rouba-Nenê” e “Ladrão de Berços” foram algumas das expressões pelas quais os tabloides britânicos classificaram Lewis.
Pra piorar, pouco antes de embarcar de volta para Memphis, no aeroporto, o cantor respondeu a uma pergunta sobre a polêmica, e se ela poderia prejudicar sua carreira.
Debochado, o Killer ajeitou o cabelo, olhou para o repórter e disse: “Tenho duas casas, três Cadillacs e uma fazenda no meu país. Você acha que estou preocupado?”. Seis anos se passaram e, em 1964, a carreira de um dos astros mais incendiários do rock’n’roll estaria quase acabada.
O cachê, que antes do escândalo chegou aos 10 mil dólares, caiu para U$ 250 por show. Lewis se submetia a tocar em qualquer canto, incluindo puteiros. E se na década anterior viu Elvis marcando passo no exército enquanto ele, Lewis, ascendera ao topo do rock, agora, o Killer observava imobilizado Beatles e Stones dominarem o mundo.
Jerry Lee Lewis imaginava que os jovens roqueiros desapareceriam, rapidamente, porque os considerava um tipo de fogo de palha. Diante de tantos infortúnios e reviravoltas, o astro reagiu de forma interessante: os shows se tornaram ainda mais selvagens que o normal, convertendo-se em verdadeiras celebrações juvenis do instinto de agressão e da sensualidade. Lewis não freou diante da barroca, pelo contrário, pisou no acelerador.
Depois de ver esse desempenho de Jerry Lee Lewis, gravado num show realizado na Inglaterra, em 1964, dá pra ter uma ideia de como eram as apresentações. É muito interessante observar a relação do público com o artista. Tem um cara que não para de por a mão no ombro de Lewis, num gesto de admiração, que flagra um tipo de transe pelo qual o pianista dominava a plateia.
Então, chegamos ao álbum Jerry Lee Lewis – Live at the Star Club, Hamburg, gravado em 1964, durante o inferno pessoal do músico. Sem dúvida, é um dos discos mais furiosos que a indústria musical já ofereceu ao mundo. São quase quarenta minutos de barulhos resultantes da excitação adolescente.
Sobre a versão de Jerry para “Money”, de Gordy & Bradford: ouça e compare com a gravada pelos Beatles. É apenas uma sugestão, caso haja interesse de aferir a própria sensibilidade ao punch.
Com todo respeito, os “Fab Four” soam, digamos, inofensivos, numa comparação com a performance de Lewis. O registro ainda nos presenteia com uma versão espetacular de “Your Cheatin’ Heart”. Novamente: com todo respeito a Hank Williams: o Killer foi quem finalizou a criação deste clássico country.
Live at the Star Club é um disco tão alucinado quanto inspirado. Uma espécie de equivalência ao Johnny Cash at Folsom Prisom” na carreira de Cash. Porém, longe de resultar muito dinheiro e uma volta ao topo, a exemplo do ocorrido com Cash, Live at the Star Club consolidou o Killer como protagonista em dos momentos mais inspirados que o rock já produziu. O espírito do rock está absolutamente presente neste disco. E ele não parece moderado, cheiroso, limpo e tampouco racional.
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