Em “Descolonizada”, faixa do disco Território Conquistado, Larissa Luz canta: “Liberdade é não ter medo”. É uma reflexão sobre a luta para manter vivo o direito se ser quem se é sem receios e uma fala que simboliza, também, a própria trajetória da cantora baiana, que, há seis anos, decidiu abandonar o grupo baiano Araketu, do qual era vocalista, para se dedicar a seu projeto solo. Alegando precisar de mais liberdade e autonomia, Larissa deixou o mainstream para iniciar uma carreira na música independente que, mais do que fazer dançar, quer fazer pensar.
A cantora lançou seu primeiro trabalho solo em 2012. Mundança, composto por nove faixas, é um disco de pegada pop que já traz alguns elementos que caracterizam o trabalho da artista, como o uso de bases eletrônicas, percussão e referências do soul e do funk. Em “Trança” ela canta “Faz a cabeça da menina/ Comunica e entrelaça/ Diz o que vem da sua raça/ Estampa identidade/ Atitude consciente/ Raiz desenha sua mente/ A cabeça da menina experimenta não disfarça”, fazendo uma primeira alusão à temática identidade e empoderamento. É um trabalho de estreia, portanto, que já dava indícios dos caminhos que a cantora procurava percorrer.
Quatro anos separam Mundança de Território Conquistado, álbum seguinte. Lançado pelo selo Natura Musical, o disco é um trabalho forte que assinala o encontro de Larissa Luz com sua própria identidade. Segundo ela, a ideia era compor músicas que estivessem centradas na realidade da mulher negra brasileira sem deixar de prestar reverência àquelas personalidades que abriram caminhos, para ela e muitas outras mulheres, em várias áreas, como Nina Simone, a escritora norte-americana Bell Hooks (que inspirou o nome do disco), a poetiza peruana Victória Santa Cruz, a escritora brasileira Carolina de Jesus e até a cantora Elza Soares, que participa da canção título.
Território Conquistado é um disco que vai soar atual por muito tempo, porque traz em si discussões que se fazem presentes hoje e que se farão amanhã.
Para atingir esse objetivo, a artista contou com a colaboração da antropóloga Goli Guerreiro, que auxiliou dando embasamento para a composição das letras. E são as letras um dos pontos altos do trabalho. Nelas, a cantora consegue abordar temáticas diversas, mas que englobam um mesmo universo de reivindicações. Em “Meu Sexo”, a cantora reflete sobre a sexualização do corpo feminino negro, enquanto em “Território Conquistado” o discurso é o de aceitação diante daquilo que se vê no espelho. Já em “Nollywood”, a referência é ao cinema nigeriano, enquanto em “Bonecas Pretas” reivindica a representatividade para as crianças negras.
Embalando todos esses gritos por liberdade e por direitos há um instrumental de peso. As bases eletrônicas dialogam com as guitarras, baixo e bateria, o que faz o disco ter seus momentos mais rock. Em outros, se destacam as influências do trap e do funk, dando o balanço que sempre esteve com Larissa.
Indicado ao Grammy Latino de 2017 na categoria melhor álbum pop contemporâneo, Território Conquistado é um disco que vai soar atual por muito tempo, porque traz em si discussões que se fazem presentes hoje e que se farão amanhã. É também um excelente exemplo de como a política, no seu sentido mais amplo, não está afastada do pop, mas se faz presente também neste gênero, e pode se manifestar através da festa, da dança, e de outras várias formas. Como canta Elza Soares em “Território Conquistado”, “Ocupamos nosso espaço/ Cada passo um pedaço”. Larissa está conquistando o seu e lembrando que ele pode ser do jeito que ela quiser, sem medo.
NO RADAR | Larissa Luz
Onde: Salvador, Bahia;
Quando: 2012;
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