Vi há algumas semanas que a banda Yellowcard iria acabar. Gerou uma certa comoção nas redes sociais em que vi a notícia. A minha primeira reação foi um rápido questionamento na linha de “eles ainda existiam?”. Tenho feito essa mesma pergunta a mim mesmo algumas vezes recentemente, em umas semanas em que ando revisitando o que hoje deveria chamar de guilty pleasure, mas, no fundo, faz parte do meu gosto musical mesmo. É uma sensação engraçada de perceber que aquelas bandas que você tanto ouviu na adolescência não desapareceram conforme você cresceu. É óbvio que não sumiram, mas normalmente soa como algo preso na sua memória. “Yellowcard não faz parte da minha vida desde que criaram o smartphone. Eu baixei o disco deles pelo eMule. Como podem ainda existir?”. Ouvir algo deles hoje, então, é uma mistura de choque de realidade com nostalgia.
O Yellowcard vai acabar e bastante gente ficou triste com isso, seja pelo hoje ou pela pessoa que foram dez anos atrás. Vão lançar um disco final antes da aposentadoria e soltaram a notícia através do primeiro single: “Rest In Peace” (sugestivo). Ao mesmo tempo em que os caras que lançaram Ocean Avenue em 2003 e embalaram toda uma geração (vai, não é exagero) cantando “Here I go, scream my lungs out and try to get to you, you are my only one…”, uma outra banda do estilo acabou de dar um choque monumental no mundo da música.
(Rest In Peace, a música de adeus do Yellowcard)
É uma sensação engraçada de perceber que aquelas bandas que você tanto ouviu na adolescência não desapareceram conforme você cresceu.
O blink-182 voltou de uma pausa de quatro anos, depois de um hiato de outros oito, e foi como um tiro. California (2016) acabou de estrear na lista de 200 álbuns mais vendidos da Billboard no primeiro lugar, com 186 mil cópias vendidas (entre físico, digital e métrica de stream), e desbancou Views, do Drake, que liderava a lista há oito semanas. O disco novo do blink-182 vendeu mais que Blackstar, do Bowie, por exemplo.
É o primeiro trabalho do trio sem Tom DeLonge – com Matt Skiba no lugar – e parece saído do começo dos anos 2000. Talvez, grande parte do sucesso de California se deve a isso: ele soa como o blink-182 que nos acostumamos a ouvir 15 anos atrás. Não é o melhor disco de rock do ano até agora e nem chega perto de ser inovador em algo, mas é o pop punk que cansamos de tanto ouvir no passado e agora soa nostálgico e empolgante (leia aqui nossa crítica do álbum). Os britânicos do The 1975 também conseguiram o #1 da Billboard por uma semana em março com seu novo disco de indie rock inofensivo. Eu prefiro ouvir quarenta vezes blink-182 ou Yellowcard do que o The 1975 ou o último do Tame Impala.
(Bored to Death, o single da volta explosiva do Blink-182)
Esse movimento na lista de mais vendidos diz algo sobre o rock atual. No mês passado o Pierce the Veil estreou na Billboard em quarto lugar, com seu Misadventures atrás somente de Drake, Beyoncé e Meghan Trainor. O que esse disco de metalcore/post-hardcore estava fazendo lá? Ele faz parte de um mundo que pertence ao underground nos últimos anos, desde que a segunda década do milênio deixou pra trás o pop-punk e o emocore da cena mainstream. História parecida com a do Bring Me the Horizon, que no ano passado colocou seu That’s the Spirit no segundo lugar do top da Billboard na semana em que foi lançado, em um grande sucesso comercial para uma banda nascida no deathcore em 2004.
O Yellowcard e o blink-182, que já conheceram bem o topo das listas e hoje causam o estranhamento da pergunta “eles ainda existem?”, também seguiram vivos nesse meio, que hoje é recheado de grandes bandas – novas e remanescentes da década passada. Quem sabe, o esgotamento da apática cena popular do rock dê espaço para essa turma. Já vimos essa história outras vezes; o som pesado ganhar espaço contra a corrente que havia esquecido de gritar um pouco. Quando o Yellowcard começou as coisas estavam assim. Agora eles vão acabar, mas esse tipo de música não é só uma memória da adolescência.