O Lollapalooza dispensa apresentações. Comentários sobre a escalação de bandas para o festival pipocam pela internet a cada minuto, mas é sempre interessante esmiuçar essa lista e tentar colocar um sentido no meio da euforia de alguns e decepção de outros. A quinta edição do festival acontece no Brasil nos dias 12 e 13 de março de 2016 e lançou essa semana o line-up completo das bandas que vão tocar em Interlagos.
Para começo de conversa, o Lollapalooza 2016 é a cara da música jovem atual. Quase metade do line-up (pelo menos 18 das 46 atrações já confirmadas) são DJs, seja de EDM (a sigla para electronic dance music, que define boa parte da música pop atual) ou trap-hop, a mistura agressiva de eletrônico, hip-hop e dubstep. Todo esse universo do EDM é provavelmente o acontecimento mais rentável no mundo da música atualmente, e já é fácil perceber que o estilo deixou de ser coadjuvante do festival, como foi nas primeiras edições em que era atração de tenda própria com um ou outro nome expressivo. Skrillex e Calvin Harris já haviam tocado no Lolla em 2012, mas essa presença nunca pareceu tão forte quanto na próxima edição.
Uma das explicações aqui é simples: é mais barato trazer um DJ para o festival. Por mais que o conceito de DJ superstar esteja em alta, com a EDM entrelaçada ao pop, é um show mais simples de montar. A logística é menor, a equipe é menor e a banda é basicamente uma pessoa. Zedd, Kaskade, ODESZA, Flosstradamus e A-Trak são alguns dos exemplos que compõe boa parte da escalação do festival, e que certamente dão muito menos trabalho ao produtor do que organizar um show com mais de dez pessoas no palco, como é o caso do Arcade Fire, por exemplo. Skrillex, que já moveu uma multidão em duas edições do festival no Brasil, já desponta como figurinha carimbada ao aparecer novamente, agora com o Jack Ü, duo que forma com o produtor Diplo.
É mais barato trazer um DJ para o festival. Por mais que o conceito de DJ superstar esteja em alta, com a EDM entrelaçada ao pop, é um show mais simples de montar. A logística é menor, a equipe é menor e a banda é basicamente uma pessoa.
Para compensar esse lado do festival que é uma mina de ouro recém-descoberta, o Lollapalooza aposta em nomes antigos do rap de relevância questionável atualmente. Em um ano em que Kendrick Lamar fez um dos discos de rap mais importantes da década, que o Run the Jewels estourou e que o The Weeknd chegou ao mainstream, é estranho ver Eminem e Snoop Dogg nas primeiras linhas da escalação.
No lado indie da raíz do festival, Noel Gallagher traz o seu projeto solo como grande nome da edição, seguido por Florence Welch e seu The Machine, Mumford & Sons e Tame Impala. No lado mais alternativo, Alabama Shakes e Of Monsters and Men vêm pela segunda vez ao Lollapalooza com ótimos novos discos e devem agradar. Do ex-Oasis é fácil esperar uma tonelada de hits e mais belas faixas do seu trabalho com o High Flying Birds, enquanto Florence e Mumford possuem um bom público jovem com um indie-folk-pop. O Tame Impala traz a cota de rock psicodélico feito em 2015 como se fosse 1970 que agrada a muitos, mas soa como peixe fora d’água aqui. Escondidos na metade do line-up – o que mostra bem a cara do festival – ainda estão os dinossauros punks do Bad Religion e o Eagles of Death Metal do líder do Queens of the Stone Age, Josh Homme, que esteve no Lollapalooza em 2014 e fez um dos melhores shows da edição. Na área do rock alternativo, três nomes vêm como sobreviventes na enxurrada de DJs. Cold War Kids e Albert Hammond Jr. (guitarrista dos Strokes em carreira solo), dois bons nomes para compor a escalação, vêm ao lado do ótimo The Joy Formidable, que mistura uma pegada shoegaze pesada com pós-punk que ao vivo deve soar especialmente bem. A banda Walk the Moon fecha a parte indie do festival para suprir a cota de música genérica com cara de trilha sonora de comercial de carro, que ano passado teve como representante o Fitz & The Tantruns.

Para terminar de mergulhar na lista, o festival traz escolhas interessantes para a parte brasileira. O rapper Emicida anda com moral suficiente para tirar público de muitas das atrações internacionais e deve ter um horário bom na escalação. Maglore, Dônica, Supercombo e Dingo Bells formam um quarteto de novas bandas indies nacionais que provavelmente vão animar um grupo pequeno de pessoas nos primeiros horários. Tem também a boa banda de Porto Velho, Versalle, saída do SuperStar da Rede Globo.
Comparado com as edições anteriores, é mais um Lollapalooza sem grandes headliners, mas que no conjunto da obra deve render umas boas horas de música. O principal problema é também o que talvez renda mais dinheiro para o evento, que é apostar as fichas nas modas do momento. É fácil imaginar que daqui há alguns anos vamos olhar para essa lista de bandas e perguntar “quem?”. Uma escalação efêmera que sintetiza a música atual, de um lado a moda para jovem pular em balada alternativa e do outro as bandas que emulam sons de décadas atrás.