Dois temas são recorrentes nesta coluna. O primeiro, versa sobre como, às vezes, os grupos soam muito melhor ao vivo do que em estúdio. O segundo, diz respeito à cacofonia sonora, que por vezes atrapalha o resultado de um disco. Ambos são assuntos que podem (e devem) ser abordados na análise do primeiro EP da Pompeu e os Magnatas, O Espetáculo Pompeia.
Um ponto é fato: a Pompeu e os Magnatas é um turbilhão ao vivo. Não obstante, isso parece não ter se refletido em O Espetáculo Pompeia. A banda carrega consigo um ponto interessante dentro da cena curitibana. Ser um grupo que aposta em uma sonoridade que mescla elementos do funk e da soul music com doses pontuais de psicodelia dá uma personalidade ímpar ao quarteto, composto pelos músicos Rodrigo Magno, Guilherme Moreno, Matheus Baptista e Vinicius Macedo.
Quem presta um pouco de atenção à indústria da música no Brasil, nota que esses gêneros passaram por um processo de massificação entre os anos 80 e 90, que ao invés de expandirem suas possibilidades sonoras, causaram um empobrecimento do gênero. Isto tornou boa parte dos registros pós-Tim Maia em simulacros excessivamente comerciais e efêmeros, disfarçando músicas apenas miméticas como se fossem a reinvenção da roda. Resultado? Hoje em dia, dificilmente encontramos um grupo verdadeiramente original, dançante e comercial – afinal, o problema não é soar comercial, mas apostar em ser vendável acima de ser relevante.
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Se no disco, as doses de psicodelia criaram um ruído na narrativa proposta pelas sete faixas, ao vivo elas chacoalham até a última célula de nosso corpo.
Essa é uma grande qualidade do quarteto curitibano. Se no disco, as doses de psicodelia criaram um ruído na narrativa proposta pelas sete faixas, ao vivo elas chacoalham até a última célula de nosso corpo. As canções de O Espetáculo Pompeia não são ruins, longe disso. Mas as variações rítmicas atrapalham a boa condução do álbum, resultando na cacofonia sonora. Ou seja, ao invés de um registro no qual a heterogenia de inspirações musicais cria uma imagem única e coerente, temos um excesso de referências que causa certa estranheza.
Individualmente, nota-se a riqueza de cada faixa, que brinca com nosso imaginário e remete aos bons tempos em que não apenas Tim Maia abraçava nossos ouvidos, mas Toni Tornado (e seu Toni Tornado, de 1971) e Cassiano (e seu emblemático Cuban Soul) também ditavam os passos nas pistas e davam um choque musical em nossos tímpanos, assim como James Brown. A sobra fica pela dose psicodélica que, ao contrário de suas apresentações ao vivo, não encaixou como poderia e tornou estes momentos em artificiais.
Para um grupo com apenas dois anos de estrada, a Pompeu e os Magnatas já demonstra uma grande capacidade de entreter o público, dá uma boa demonstração que o funk e a soul music podem oferecer suingue com letras inteligentes e a perspicácia de ler a geração a qual se dirige. E se o disco não faz muito jus ao potencial do grupo, fica o convite ao leitor que procure ir a um show do quarteto para entender do que é que eles são feitos. Uma banda, definitivamente, não se resume aos seus registros. Nem Tim Maia acertou sempre.