O futebol mostrou que vir do mesmo lugar que algum outro gênio da bola, seja o país, o clube ou a cidade, é um fantasma que muito provavelmente perseguirá este atleta. De forma semelhante, no mundo da música, certos fantasmas assombram a carreira de algumas bandas.
Uma lamentável bobagem, que agrega um peso desnecessário sobre os ombros de músicos que ficam impedidos de serem o melhor que eles poderiam ser – e isso já é muita coisa, afinal, o primeiro passo para ser um gigante é ser você mesmo, original.
Uma cidade em especial vive sob essa fumaça densa de seus fantasmas do passado, mesmo que nem todos já tenham ido dessa para outra – ou que sejam gênios. Na Seattle pós-grunge, parece, por vezes, que não se aceita menos que a genialidade. Também pudera: o último movimento musical verdadeiramente expressivo no mundo fez de The Emerald City sua capital.
E bem antes disso, a cidade do condado de King, no estado de Washington, serviu de catapulta de notáveis como Ray Charles, Quincy Jones e da cantora Ernestine Anderson, além de ter sido berço para Kenny G e Band of Horses.
Agora, imagine ser um guitarrista na cidade onde nasceu ninguém menos que Jimi Hendrix. Difícil, não é? Bom, ao menos não é o que parece quando ouvimos os riffs alucinantes de Reignwolf, o codinome por trás do músico Jordan Cook. Cook é um artista verdadeiramente excêntrico.
Apontado por dez em cada dez publicações especializadas em música dos Estados Unidos como um dos maiores nomes da atual geração de guitarristas do mundo, Reignwolf não faz muita questão de, por exemplo, entrar em um estúdio.
Este é o motivo para que você não encontre nada mais que três singles gravados nos últimos dois anos. Os músicos do Pearl Jam já o cobraram publicamente mandando, via imprensa, um curioso recado: “E aí, Jordan, vai enrolar até quando?”.
Não há exageros em dizer que o Reignwolf é incrível. Seus shows, como o do Lollapalooza Chicago, de 2013, apenas para citar um, são demonstrações de uma entrega completa.
Jordan Cook, após plugar uma de suas guitarras Gibson, joga distorções no público, dá inúmeros pulos no palco, grita, bebe, parece possuído. É um artista incrivelmente performático, e com um amplo domínio de seus gestos e expressões, de forma a andar no limítrofe entre uma atuação teatral e uma atitute realmente rock and roll. Ainda assim, não é sempre que sua Gibson resiste para além de um show.
Jordan Cook, após plugar uma de suas guitarras Gibson, joga distorções no público, dá inúmeros pulos no palco, grita, bebe, parece possuído.
Acompanhado do baixista David “Stitch” Rapaport e do baterista Joseph Braley, Reignwolf agrega peso ao rock and roll atual sem soar pesado. Comparado ao ex-líder do The White Stripes, Jack White, Jordan Cook vai além.
O palco é seu terreiro, a música é sua fé e o show o exercício dela. Isto toma proporções tão absurdas a ponto de uma apresentação sua ser acompanhada de forma petrificada pelo público.
É impossível passar incólume às seis cordas de sua guitarra; é pouco provável não acompanhar com os olhos e o pescoço aquele circo todo em cima do palco a cada pulo, que ao tocar o chão descarrega em nós toda a força do martelo de Thor. Vai saber, de repente, Reignwolf é o próprio deus mitológico nórdico. Seus riffs dirão.
Se precisar de mais algum motivo, até Ozzy Osbourne sentiu-se embasbacado com o som do norte-americano. Após uma apresentação do guitarrista, Ozzy correu pelos camarins gritando: “Não é possível, ‘isto aí’ é uma banda ou um cara?”. Foi alertado por um jornalista da Rolling Stone: “São ambos”. Ouso dizer que são vários. De ambos.
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