Nos idos de 2008 despontava pelas noites curitibanas o grupo Rosie and Me. O momento era propício. Pipocavam Brasil afora vários grupos e artistas que abraçavam e revisitavam a folk music dos anos 1960. Mallu Magalhães e Vanguart foram, talvez, os maiores expoentes no início deste florescer da cena folk brasileira.
Não demorou muito para que o grupo curitibano virasse febre no Brasil e fora daqui. A banda se caracterizou por incorporar elementos do gênero, marcado por Bob Dylan e Joan Baez, acrescentando as composições novas camadas de brasilidade, sem, no entanto, soar algo forçado ou uma “brasilização” do folk. A Rosie and Me soava natural, uma vivência completa das sensações que a música e a arte, elementos base de um grupo ou artista, causavam em seus integrantes; o cotidiano, as relações humanas e como tudo isso impactava em suas próprias percepções de mundo.
Contudo, um dia isso chegou ao fim. Se foi ruim para os fãs do grupo, ao menos vimos surgir a possibilidade de um novo começo. Rosanne Machado botou na rua o projeto solo Rosie Mankato. Vestindo a camisa da maturidade musical, a cantora acrescentou novas roupagens ao seu som e passou a explorar, também, referências dos anos 1980. Mas ela foi além. Rosie buscou inspiração em suas origens russas e indígenas para criar uma nova página em sua carreira.
Desde 2013 esperamos Palomino, seu aguardado disco de estreia. Enquanto a ansiedade consome os fãs, Rosanne trabalha em seu ritmo estabelecendo a gênese de sua própria criatividade. “Chino”, seu primeiro single, lançado ainda em 2013, deu as primeiras amostras do que poderemos esperar da musicista.
Vestindo a camisa da maturidade musical, a cantora acrescentou novas roupagens ao seu som e passou a explorar, também, referências dos anos 1980.
Recentemente chegaram duas boas novas. A primeira é uma versão de Rosie para “True Colors”, clássico dos anos 1980 na voz de Cindy Lauper. A segunda veio de surpresa, durante as filmagens do projeto Rec’n’Play, do catarinense Guilherme Meneghelli. “Boat” ganhou registro em vídeo logo em sua primeira execução em conjunto.
Ainda é um dos maiores desafios, aos menos para estudiosos e críticos musicais, descobrir o que torna uma música viral, a ponto de ser abraçada por fãs e pela própria crítica especializada. O britânico Malcolm Gladwell, jornalista e colunista da revista norte-americana The New Yorker, escreveu em seu livro O Ponto da Virada (Sextante, 2013) que a melhor maneira para compreender o surgimento das tendências é vê-las como epidemias, exemplos maiores do que o escritor chamou de “comportamentos contagiantes”.
Na mesma obra, ele coloca três características típicas destes movimentos epidêmicos: a possibilidade do contágio, o fato de que pequenas causas podem ter grandes efeitos e de que a mudança acontece não gradativamente, mas num momento decisivo, ao que chamou de “ponto da virada”. Cruzando estas características com a artista curitibana, é possível perceber seu grande potencial de viralização.
Traduzindo: a voz de Rosie Mankato é doce e com a dose certa de aspereza. Suas músicas, mesmo cantadas em inglês, são de fácil compreensão. Ela canta o cotidiano, as agruras e belezas da vida, e faz isso com suavidade e pitadas homeopáticas de melancolia. A cantora entra em nossos tocadores sem pedir licença, pela simples razão de encantar nos primeiros timbres de sua voz e acordes de seu violão. Não obstante, o circuito indie alternativo brasileiro anda carente de artistas capazes de causar empatia nas mais variadas camadas. E sim, mesmo em inglês a cantora é muito capaz de fazer isso.
As linhas melódicas de Rosanne se assemelham as da britânica Florence Welch (Florence + The Machine) e da dupla sueca First Aid Kit. Seu sorriso introspectivo nos guia por toda panorâmica musical e verbal de sua obra. Ao nos perdermos nas harmonias da cantora, nos deparamos com um encantamento telepático, uma música para ser ouvida olho no olho, para sonhar na nossa narrativa urbana diária. Talvez nem seja a pretensão de Rosie, mas ao finalizar a audição de suas músicas, fica a certeza de que nos tornamos amigos, companheiros na charmosa e trágica essência de sermos humanos na fria – e ainda assim calorosa – Curitiba.