Quando Stuart Staples e seus companheiros de banda subirem ao palco do Auditório Simón Bolívar, no Memorial da América Latina, na capital paulista, em abril do próximo ano, um novo capítulo será escrito na longa história do grupo Tindersticks. Pela primeira vez, a banda britânica desembarca no Brasil para uma apresentação que promete ser tão intimista quanto poderosa.
Com uma carreira de mais de 30 anos, o grupo inglês cria trilhas sonoras emocionais que parecem feitas sob medida para tempos introspectivos. Essa primeira passagem pelo país é um marco não apenas para os fãs, mas também para a própria banda, que nunca havia tocado na América do Sul.
Donos de apresentações arrebatadoras e de uma discografia que desafia os rótulos fáceis, este show não promete ser apenas uma celebração de sua rica trajetória, mas uma reafirmação da relevância artística do quinteto, que continua a evoluir, mantendo-se fiel ao seu universo sonoro melancólico e sofisticado.
Uma jornada de lirismo e sofisticação
Fundado em Nottingham, Inglaterra, o Tindersticks construiu uma carreira singular no cenário da música alternativa britânica. Os músicos não seguiram o caminho das tendências dominantes do início dos anos 1990, desafiando o hedonismo das bandas britpop da época com canções impregnadas de melancolia, arranjos orquestrais, letras pungentes e uma estética profundamente cinematográfica, além da voz grave e rouca de Staples, que rapidamente se tornou uma marca registrada.
O álbum homônimo de estreia, lançado em 1993, já mostrava sinais de uma banda que rejeitava a fórmula do pop fácil, preferindo mergulhar em atmosferas densas e letras carregadas de introspecção. Canções como “City Sickness” e “Patchwork” exibiam a habilidade da banda em criar um senso de intimidade emocional rara no cenário musical. O segundo álbum, Tindersticks II (1995), consolidou a reputação do grupo, com canções ainda mais densas e um senso de tragédia romântica que permeava cada acorde.
Com uma carreira de mais de 30 anos, o grupo inglês cria trilhas sonoras emocionais que parecem feitas sob medida para tempos introspectivos.
Ao longo dos anos, o Tindersticks experimentou várias fases em sua sonoridade, sempre mantendo um caráter cinematográfico em sua música. Se os primeiros discos foram marcados por uma forte presença de arranjos de cordas e uma pegada mais sombria, com Curtains (1997) a banda começou a expandir suas fronteiras sonoras, trazendo uma maior influência do soul e até mesmo flertes com o jazz. Álbuns como Simple Pleasure (1999) mostraram que Staples e sua banda estavam longe de se contentar com uma fórmula fixa, embora a tristeza nunca estivesse distante das letras do músico.
Nos anos 2000, o Tindersticks passou por mudanças significativas em sua formação. Membros fundadores deixaram o grupo, e Staples decidiu se afastar brevemente para se dedicar a projetos solo. Esse período de transição culminou em The Hungry Saw (2008), um registro que marcava o renascimento da banda. Embora o tom sombrio e introspectivo continuasse, havia um frescor nos arranjos, e a presença de novos colaboradores ajudou a trazer novas nuances à sonoridade do grupo.
Em 2012, o álbum The Something Rain reafirmou o Tindersticks como uma força criativa constante. Faixas como “Show Me Everything” e “This Fire of Autumn” mostraram que, mesmo após décadas de carreira, a banda ainda tinha muito a dizer — e a maneira como diziam ainda cativava fãs antigos e novos.
Discos e trilhas: a conexão com o cinema
Uma das facetas mais fascinantes do Tindersticks é sua conexão com o cinema. Staples e seus companheiros colaboraram extensivamente com a diretora francesa Claire Denis, criando trilhas sonoras para filmes como Nenette e Boni (1996) e Desejo e Obsessão (2001). A sensibilidade cinematográfica da banda sempre foi evidente em suas composições, mas esses projetos colaborativos elevaram ainda mais essa qualidade. As trilhas de Denis capturam a tensão e a beleza silenciosa que são características tanto dos filmes quanto da música do grupo.
Com o passar do tempo, a banda se consolidou como mestre em criar ambientes sonoros que parecem sugerir histórias ainda não contadas. Essa habilidade tornou seus álbuns sempre interessantes, com cada um trazendo uma nova camada de emoção e profundidade. The Waiting Room (2016) é um exemplo perfeito dessa qualidade cinematográfica. Com faixas que exploram a fragilidade da condição humana, o disco foi recebido como uma das obras mais maduras e refinadas da banda.
‘Soft Tissue’ e a estreia no Brasil
Em setembro de 2024, o Tindersticks lançou Soft Tissue, um álbum que mantém o tom emotivo característico da banda, mas que também traz uma nova abordagem sutil e calorosa. O grupo segue hábil na criação de texturas refinadas e discretas, impregnadas de detalhes que evocam o soul dos anos 1970. Faixas como “New World” e “Don’t Walk, Run” exploram influências do soul de Memphis, enquanto outras, como “Nancy”, flertam com ritmos que lembram a bossa nova.
Se o clima melancólico é sempre presente, Soft Tissue também apresenta momentos de esperança. “Falling, the Light” e “Soon to Be April” trazem uma leveza surpreendente, celebrando a beleza em pequenos detalhes e criando uma trilha sonora sutil para a vida cotidiana. Essas composições mais recentes, com arranjos meticulosos, mostram a capacidade do Tindersticks de se reinventar, sem perder a essência emocional.
Essa nova fase chega ao Brasil em 2025, oferecendo ao público a chance de vivenciar, ao vivo, canções como “Always a Stranger” e “Turned My Back”, além dos clássicos de álbuns anteriores. O show, que tem promoção da LATINA! e da Kromaki, num revigorante retorno de Paola Wescher à produção no Brasil, promete ser uma imersão na delicadeza melódica e na poética emocional que marcam a carreira dos britânicos, com Soft Tissue representando uma evolução natural e impactante. Para os fãs brasileiros, é uma oportunidade única e imperdível. Acima, montamos uma playlist com o set que a banda tem apresentado na turnê pela Europa.
SERVIÇO | Tindersticks no Brasil
Onde: Auditório Simón Bolivar – Memorial da América Latina (Av. Mário de Andrade, 664 – Barra Funda, São Paulo/SP);
Quando: 16 de abril de 2025, 20h30;
Quanto: ingressos a partir de R$ 180,00 – vendas na plataforma Zig Tickets.
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