Em junho deste ano foi lançado Ctrl, o disco de estreia de SZA, depois de muita espera e expectativa. SZA é o nome artístico de Solana Imani Rowe, cantora e compositora norte-americana, que lançou seu primeiro EP em 2012, See.SZA.Run, o que fez com que seu nome fosse aparecendo aqui e ali em inúmeros lugares nos anos seguintes.
Eu conheci SZA depois de sua participação em uma música da pequena Willow, porém, a artista apareceu também em canções de ScHoolboy Q, Ab-Soul, Kendrick Lamar e, mais recentemente, na faixa “Consideration”, de Rihanna. Porém, SZA ainda lançou dois outros EPs nesse tempo, o S e o Z, que já marcavam esse universo múltiplo e criativo da artista, aumentando a expectativa em torno de seu primeiro disco.
Seu debut estava prometido para 2016, com o título de A, fechando esse ciclo de forma autointitulada, porém, depois de inúmeros atrasos, o disco saiu sob o nome de Ctrl, trabalho que resume de forma genuína a força e a criatividade de SZA. Construído sob o universo do R&B, o que SZA mais faz é expandir esse cenário, inserindo hip-hop, música eletrônica e alternativa de forma variadas.

De forma confessional, SZA construiu um disco que representa de forma sincera e despudorada os relacionamentos atuais.
SZA é a continuação de artistas como Sade, Erikah Badu, Lauryn Hill e Kelis, todas referências já mencionadas pela cantora, que consegue, assim como suas predecessoras, unir diferentes gêneros em função de sua criação artística. Nesse sentido, umas das maiores referências para SZA é Björk, artista reconhecida pelo seu caráter vanguardista aliado a sua entrega emocional, perspectivas que podem ser bastante relacionadas ao universo apresentado aqui em Ctrl.
De forma confessional, SZA construiu um disco que representa de forma sincera e despudorada os relacionamentos atuais: os encontros virtuais, a liberdade sexual feminina e certo falso desinteresse que as pessoas cada vez mais gostam de demonstrar. É divino vê-la desculpando-se por não ser mais feminina ou mesmo por não ter depilado suas pernas, em “Drew Barrimone”, ou sua ode às vaginas em “Doves in the Wind”, quando ela manda o recado falando que muitos homens não merecem todas essas bocetas que estão por aí.
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As letras conseguem, nesse misto entre a sensualidade do R&B e a força do hip-hop, descrever o cotidiano e as intenções de SZA de forma tão sincera, que em alguns momentos sentimos uma identificação tão verdadeira, indo da dramaticidade à comicidade dos nossos relacionamentos. Como exemplo, vide a faixa “Supermodel”, que versa sobre o namorado dela ter ido sozinho para Las Vegas no dia dos namorados e que, como vingança, ela acabou transando com o amigo dele.
Com participações de Kendrick Lamar, Travis Scott, James Fauntleroy e Isaiah Rashad, Ctrl bebe muito na fonte do hip-hop, especialmente nos versos rápidos e nas construções imagéticas da fala de SZA, porém, é um disco que constrói-se de forma sólida para além dessas tags de gênero, firmando-se como um disco que consegue deglutir inúmeras referências e cenários, para firmar-se como um trabalho pop e acessível.
No meio desse sem-número de cantoras brancas pasteurizadas que têm surgido aos borbotões, SZA é uma figura a ser valorizada. Inteligente, sagaz e criativa, ela aponta seu olhar millenial para o nosso tempo e transforma isso em canções sedutoras e dançantes. Dê o play em Ctrl, pois esse é um dos melhores lançamentos pop de 2017!