Os últimos cinco anos foram quase como uma máquina do tempo na velocidade da luz. Ok, eu não sei física e matemática o suficiente para fazer um cálculo proporcional, mas consigo perceber que nesse intervalo revivemos coisas que deixariam nossos pais no mínimo nostálgicos.
Se de 2012 a 2013 a febre era o visual dos anos 60, e de 2014 até meados do ano passado o que chamava a atenção eram as referências aos 70s, esse ano as calças cintura alta, os cabelos despenteados e coloridos e a volta da formação original do Guns N’ Roses nos levou de volta para os anos 80.
Nessa última semana, o hype em torno de Stranger Things, o seriado da Netflix, foi imenso. E as referências a muitas fórmulas dos anos 80 foram praticamente bombardeadas nos espectadores. E nesse tempo, parece que o universo faz questão de girar em torno das coincidências.
Se o roteiro à la Goonies, com traços de Spielberg e Stephen King, foram tônica dos filmes dos anos 80, o hard rock e o glam rock foram ícones musicais durante a década — quem não se lembra da extravagância de bandas como Poison, WASP, Mötley Crüe e tantas outras?
Formada em 2009 e com disco lançado em abril desse ano, um trio de garotas tem despertado a atenção das multidões, em especial na Europa. Elas se chamam The Amorettes e seu som é daquele tipo que deixaria qualquer gigante do hard rock em olhares de aprovação, especialmente com o novo single “Let the Neighbours Call the Cops”.
Formada em 2009 e com disco lançado em abril desse ano, um trio de garotas tem despertado a atenção das multidões, em especial na Europa. Elas se chamam The Amorettes.
Antes de mais nada, é importante dizer que The Amorettes é uma dose de inspiração no hard rock. Em tempos de luta por igualdade de gênero, o trio vem como uma pancada no rim do hard rocker mais machão, principalmente em um estilo que não só predominava a hegemonia das bandas masculinas, como também agravava o desagradável rótulo de que as garotas era apenas groupies.
Além de quebrar essa imagem e estereótipos ridículos em canções incríveis, as girls, girls, girls mostram que não precisam de mais do que uma guitarra, um baixo e uma bateria para fazer barulho e levantar qualquer um do sofá.
No aspecto do trabalho, White Hot Heat traz a consolidação das escocesas na cena. Depois de trabalhos sólidos, com riffs rápidos e pancada atrás de pancada, o novo álbum mostra o amadurecimento do trio que ainda tem muito pela frente. A banda é formada pela guitarrista Gill Montgomery e sua amiga de universidade, a baterista Hannah McKay, que logo trouxe sua irmã mais nova, Heather, para assumir o baixo da banda.
Suas influências passam por Motörhead e Thin Lizzy, misturada a elementos dos anos 80. Isso é o suficiente para montar sons mais simples, mas com uma levada rápida e bem contagiante. Os vocais de Gill também são bem parecidos com os de Joan Jett, o que imprime ao trio um pouco mais de brilho nas apresentações. A banda, inclusive, já saiu em turnê com as WASP, Europe e Black Stone Cherry, o que as coloca de vez como um dos nomes em ascensão do gênero.
As letras da banda não são extremamente centradas em uma temática e muitas vezes apela para clichês da cena do hard rock, como fazer barulho, curtir a vida e comentar de hábitos extravagantes do parceiro. Mas isso dá uma identidade bem concisa a quem direciona todas as suas energias para um instrumental muito bom e com letras fáceis de acompanhar, sem trazer muitas polêmicas. Nesse aspecto, The Amorettes traz guitarras bem distorcidas e solos de construção precisa, com uma condução baixo-bateria bem sólida e limpa, deixando o peso necessário onde ele deveria estar.
White Hot Heat é um trabalho muito bom, especialmente para se acompanhar nessa onda oitentista que tem aparecido nas últimas semanas. Para as garotas do universo do rock, o trabalho é mais incrível ainda pela postura grl pwr presente faixa após faixa. E para os fãs do rock pegado e clássico, The Amorettes aparece como um dos nomes para manter vivo o legado daquele rock irresponsável e contagiante, revivendo até o lado mais underground da década de 1980.
Ponham os fones de ouvido e se preparem para a pedrada. Porque essas mina não perdoam quando ligam os amplificadores.