Depois de diferentes EPs, finalmente foi lançado o álbum de estreia do duo Sofi Tukker. Treehouse traz canções já conhecidas e faixas inéditas que expandem o universo eletrônico e pop que a dupla de Nova York vem construindo desde 2014.
Com o hit “Drinkee” e outras ótimas canções na bagagem, Sophie Hawley-Weld e Tucker Halpern tinham um trabalho complexo nas mãos: manter o frescor e a qualidade de suas canções no formato disco. Treehouse acaba sendo a prova de que a dupla tem total controle de sua estética, de sua proposta e de suas perspectivas enquanto artistas.

Treehouse consegue ser o casamento perfeito entre as diferentes influências de Sofi Tukker: pop, indie e música eletrônica se comunicam de forma certeira com a bossa nova, o tropicalismo e a poesia marginal que constroem a ponte da dupla com o Brasil.
Das canções já conhecidas, reaparecem aqui “Best Friend” – lançada ano passado, em parceria com NERVO, The Knocks e Alisa Ueno (a faixa já é bem conhecida por ter sido trilha do comercial do iPhone X e do game FIFA 2018) – e “Johny”, faixa lançada ainda em 2016 (e que estava na trilha do FIFA 2017) e que conta com os versos do curitibano Paulo Lemisnki.
“Energia”, lançada ano passado e musicada a partir do poema “Jeep Lunar”, do brasileiro Chacal, também reaparece em Treehouse. Quando do lançamento da faixa, nós conversamos com Chacal, que falou de sua alegria com o sucesso da dupla: “Corro com meus poemas pra todo lugar. E de repente, um poema ganha o mundo na voz, no som de uma dupla de jovens ins-pirados. Acho very cool e agradeço aos envolvidos.”
Os poetas brasileiros reaparecem nesse disco também: além das já citadas “Johny” e “Energia”, as canções “The Dare” e “Benadryl” também trazem versos em português. “The Dare” é adaptada do poema “Entre”, de Chacal, com Sophie cantando com um fofo sotaque (reparem na pronúncia dela para a palavra boca).
‘Treehouse’ consegue ser o casamento perfeito entre as diferentes influências de Sofi Tukker.
Já “Benadryl” traz os versos do poema “Apaixonada”, de Ana Cristina César, escritora fundamental da poesia brasileira nas décadas de 1970 e 1980. A faixa é uma das mais divertidas do disco e, curiosamente, quem canta os versos em português dessa vez é Tucker, com sua voz soturna e sedutora a brincar com o jogo de palavras do poema.
Essa relação de transformar poesia marginal em canções pop é uma das grandes qualidades da dupla, que consegue pegar versos restritos a determinados círculos e transforma isso em canções de apelo forte, que fazem dançar e chamam para as pistas.
Versando em grande parte sobre o amor, destacam-se em Treehouse os momentos de um empoderador “foda-se” do disco: “Fuck They” grita em seu refrão “I don’t give a fuck about they (Who’s they?)”. Já “Batshit” é quase uma ode à loucura e a ser quem se é (a faixa ganhou sua versão limpinha, chamada “That’s It (I’m Crazy)”, também usada em comerciais do iPhone).
Já “Baby I’m Queen”, que havia sido lançada em março, é uma canção sobre aceitar a nossa vulnerabilidade e ainda assim se amar de forma completa. “My Body Hurts”, uma das melhores do disco, fala sobre esse cansaço de tanto trabalharmos e batalharmos e ainda continuarmos na merda, falando sobre a necessidade de se libertar disso, nem que seja pela duração de uma canção.
Mesclando deep house, indie e uma boa dose de brasilidade, Treehouse consegue representar de forma bem clara esse tumulto que é o Sofi Tukker. Um tumulto maravilhoso, que consegue ir de sussurros sensuais até vocais que conversam com o punk. Tudo isso de forma coerente, criando um disco pronto para fazer a cabeça de diferentes públicos e para colocar todos para dançar.