Céu criou uma situação no mínimo curiosa. Quem acompanha a carreira da cantora sabe que o último termo que poderíamos (se é que poderíamos) utilizar para falar sobre ela é “simples”. Céu passa ao largo de qualquer análise redutora e simplista sobre seu trabalho. Entretanto, a grande marca de seu quarto disco de carreira, Tropix, é justamente a simplicidade. E é isso que torna tudo uma grande ironia. Céu torna-se complexa diante de sua sobriedade.
Veja bem, Tropix busca uma essência tão cristalina que mesmo havendo notas características da eletrônica, seu cruzamento com a MPB revela uma leveza e fluidez rara. É possível, inclusive, dizer que Tropix é um disco minimalista, no qual até os arranjos estão organizados de maneira a definir essa roupagem delicada.
Fruto da parceria da cantora com Pupillo, baterista da Nação Zumbi, e o francês Hervé Salters, o álbum aproxima Céu de uma musicalidade mais popular, mesmo que notas possam (e devem) ser vistas como influências essencialmente estrangeiras. No disco, Céu abre a caixa de energia do coração, deixando suas digitais em 10 das 12 canções.
O álbum aproxima Céu de uma musicalidade mais popular, mesmo que notas possam (e devem) ser vistas como influências essencialmente estrangeiras.
Não se trata apenas de falar de amor ao outro (“Amor Pixelado”) ou amor próprio (“Ser Quem Eu Sou”, “Quando Eu For em Busca de Mim”, “Serei Quem Sois”), é também de um jogo metafórico capaz de contrapor realidades (“Rapsódia Brasilis”) ou de propor um olhar sobre o criar (“Minhas Bics”).
Em Tropix, Céu tira camadas para mostrar que há muitas outras. E neste jogo de cena, a cantora convida o público a um exercício corporal, através de batidas e ruídos muito expressivos dentro dos limites dessa proposta de falar mais baixo para ser melhor ouvida. Perceber a cantora e sua busca por autoconhecimento também pode ser interpretado como alguém que se renova, um novo florescer para seu jardim musical.
Este desnudar-se perante o ouvinte, ao mesmo tempo em que o convoca a manter um diálogo contínuo, marca uma nova estratégia, essencialmente mais experimental e heterogênea do que vimos em CéU (2005), Vagarosa (2009) ou Caravana Sereia Bloom (2012). Talvez estejamos acompanhando o surgimento de um novo estilo dentro de sua multifacetada carreira, mas o certo é que estamos, todos, sendo presenteados com uma música capaz de ser sincera e marcante, complexa justamente por sua simplicidade.
SHOW EM CURITIBA
A cantora vem à cidade neste próximo sábado, 12, para lançar Tropix. O show acontece na Ópera de Arame.
CÉU | Lançamento “Tropix”
Quando: Sábado, 12/11, às 20h;
Onde: Ópera de Arame | Rua João Gava, 874;
Quanto: R$ 40 + R$ 10 (taxa administrativa) | valor do 2º lote | Disk Ingressos;
Infos: Santa Produção | Evento no Facebook.