Saber a hora e parar é um momento importante para uma banda. Pense como o mundo poderia ser melhor se o Coldplay tivesse decidido fechar a conta depois de X&Y (2005), por exemplo. Encerrar – ou dar um tempo – em uma banda pode ser triste, mas ajuda a deixar boas memórias e traz ao fã a ansiedade quase infantil de sonhar com um retorno dos seus ídolos. Para quem gosta de música alternativa, 2016 já se confirmou logo no primeiro mês como um ano de retornos de bandas que há anos não escutávamos. Fica fácil de perceber ao olhar o cartaz de divulgação da edição deste ano do festival Primavera Sound, em Barcelona, um dos mais importantes da música, que foi um dos assuntos mais comentados na última semana. Nas duas primeiras linhas, entre os seis artistas que, em tese, são os maiores do line-up, três estão voltando aos palcos depois do fim.
O maior destes retornos é, sem dúvida, do Radiohead. Difícil imaginar alguma banda tão relevante quanto o grupo de Thom Yorke nos últimos 20 anos, que volta com promessa de turnê e disco novo após cinco anos separada. O Radiohead é sinônimo de inovação e, da última vez em que voltou de um hiato, veio com um de seus melhores trabalhos, o incrível In Ranbows (2007), que além do lado musical trouxe, de carona, uma quebra de paradigma para o consumo de música na internet.
Outro headliner do Primavera Sound é uma banda de carinho especial pra muitos. O LCD Soundsystem tem uma trajetória completamente fora do padrão. Um grupo de amigos de Nova Iorque liderados pelo DJ James Murphy, já na casa dos 30 anos, que resolveram fazer música eletrônica fora do circuito pop. O resultado foi sucesso de crítica e fãs apaixonados, música sincera e original. Depois de três discos lançados, o LCD terminou com um show apoteótico no Madison Square Garden (dia que virou o documentário Shut Up and Play the Hits, que recomendo com vigor). De lá pra cá, James Murphy fez trilhas sonoras, abriu um bar de vinhos, colaborou com o Arcade Fire e seguiu sendo um dos caras mais legais da música. No dia 25 de dezembro de 2015, a banda lançou o single natalino “Christmas Will Break Your Heart” e antecipou o que confirmou há algumas semanas: turnê mundial e disco novo, acompanhados por um pedido de desculpas para quem foi no show de 2011 e achou que seria o último.
Completa o trio de grandes do Primavera uma dupla de rostos conhecidos do indie rock, que lá em 2008 havia lançado um ótimo disco. O The Last Shadow Puppets é o projeto paralelo do garoto-estrela Alex Turner (do Arctic Monkeys) e seu amigo Miles Kane. The Age of the Understatement (2008) é um disco de rock com pegada nostálgica, que em alguns momentos foi até melhor que os trabalhos mais famosos dos dois. O novo álbum já tem data para sair, 1º de abril, e deve ser um fôlego interessante para uma cena que anda tão apagada.
Para quem gosta de música alternativa, 2016 já se confirmou logo no primeiro mês como um ano de retornos de bandas que há anos não escutávamos.
Completo a lista com o retorno do hiato mais longo de todos. Já se passaram 16 anos desde que o At the Drive In lançou o incrível Relationship of Command (2000). O grupo texano foi seminal no rock do início do milênio com guitarras afiadas, som pesado e tempero mexicano. Uma dessas bandas que estão na lista de influências da maioria dos novos atos hardcore. Ainda não se sabe muito sobre o retorno do At the Drive In, mas haverá música nova e turnê. Um teaser de 25 segundos no site da banda já dá o toque de que a força do grupo continua igual.
Enquanto 2016 não nos apresenta muitos lançamentos e bandas novas, os nomes já conhecidos são os que mais empolgam por hora. Que sejam retornos à altura do que deixaram.