Trocando em Miúdos: I Don’t Want to Let You Down, novo EP de Sharon Van Etten, segue o belo caminho de Are We There, grande disco da cantora lançado no ano passado. [rating=4]
Are We There (2014), quarto disco de estúdio da cantora norte-americana Sharon Van Etten, foi uma das experiências musicais mais potentes do ano passado. Presente na maioria das listas de melhores álbuns do ano, o trabalho era o auge da carreira da cantora, ao unir uma produção grandiosa à sutileza de sua música, que acompanha a visceral descarga de emoções de suas letras. Sharon é sincera, canta o amor como quem rasga o peito e coloca o coração pra fora, ao mesmo tempo em que parece se afogar em sentimentos não ditos. Ela canta canções de amor que vêm com uma cicatriz.
Do processo de criação de Are We There, disco que se baseia em um relacionamento que, nas próprias palavras de Van Etten “era algo que ela mantinha em idas e vindas por cerca de dez anos”, surgiram outras músicas que agora compõem I Don’t Want to Let You Down, EP de seis canções que ela acaba de lançar. O disco mantém a inspiração neste relacionamento, mas foca na parte em que a cantora decide abandonar algumas pessoas e se dedicar à música. Na primeira faixa – que dá nome ao trabalho – Sharon repete que não quer decepcionar ninguém, mas sabe que escolhas devem ser feitas se ela deseja fazer da música a sua vida. Em entrevista sobre o EP à rádio NPR, ela contou que a canção surgiu no momento em que uma escolha precisou ser feita: o relacionamento ou a carreira, e ela optou pela última.
“Sharon é sincera, canta o amor como quem rasga o peito e coloca o coração pra fora.”

Com o sucesso de Tramp (2011) e Are We There, Sharon pegou a estrada e expandiu sua carreira, além de continuar sua parceria com artistas como o The National. Assim, o novo EP é claramente um momento da artista para refletir sobre as suas escolhas nesse período; o que precisou abandonar, os meses na estrada, o sucesso que a levou a finalmente ter dinheiro para pagar as contas (tema da bela “Pay My Debts”) e outros conflitos internos. Estamos acostumados a ouvir Sharon cantando sobre “ela e alguém”, aqui vemos muito mais “ela sobre ela”, ela a partir do efeito de suas escolhas. Em “I Always Fall Apart” a cantora fala sobre a saudade da época em que as coisas eram mais simples, do começo da carreira e a primeira gravadora.
I Don’t Want to Let You Down não perde a essência de ser, como tudo que Sharon faz, um trabalho sobre amor. A diferença é que aqui ele se expande, é um amor à música que entra em confronto com o amor dos relacionamentos pessoais. É um EP potente e que serve como um complemento perfeito aos últimos trabalhos da cantora, para firmá-la novamente como uma das grandes vozes da música atual.