Junto ao crescimento da indústria musical nos anos 50, surge a profissão de músico de estúdio. O nascimento do rock’n’roll – e a consequente explosão do mercado – obrigaria as gravadoras a abastecer as lojas de discos com muitos lançamentos. Afinal, o número de jovens ávidos por diversão e novidades era gigantesco no mundo pós-guerra. E dar conta de toda essa produção não seria moleza.
Diante disto, muitos músicos treinados precisariam estar reunidos num estúdio para que tal tarefa fosse realizada. Assim, aparece no início dos anos 50 o chamado Wrecking Crew, grupo de instrumentistas talentosíssimos que seria capaz de realizar proezas tais como gravar um disco inteiro – com a tecnologia da época, vale lembrar – em apenas um dia.
Wrecking Crew (“Equipe de Demolição”) foi o apelido dado a este pessoal que ocuparia a cena musical de Los Angeles a partir dos anos 50 até mais ou menos o início dos 70.
Esses profissionais não costumavam receber créditos nos discos, e, portanto, o grande púbico não sabia quem era uma Carol Kaye, por exemplo, mas conhecia uma porção de hits que ela havia gravado.
Não há precisão, tampouco consenso, quanto ao número de músicos que faziam parte do grupo. Mas o que se estima é algo entre 15 a 30 nomes. Dentre os quais, estavam os guitarristas Tommy Tedesco, Glen Campbell, Al Casey e Bill Pitman, os bateristas Hal Blaine e Earl Palmer, os saxofonistas Plas Johnson e Steve Douglas e os baixistas Carol Kaye e Larry Knechtel.
Durante uns 15 anos, essa moçada foi responsável pela maioria das gravações realizadas em Los Angeles – e, consequentemente, pelo que circulou na indústria musical dos Estados Unidos em seu momento, talvez, mais glorioso.
Discos dos Beach Boys, de Frank Sinatra, Sonny and Cher, Simon & Garfunkel, Nat King Cole, Herb Albert, The Mamas & the Papas, Carpenters, Monkees e Neil Diamond tiveram os toques, bends e batidas de alguém da Wrecking Crew.
No Brasil, alguns dos músicos de estúdio mais procurados integravam grupos como Os Carbonos, Fevers, Renato e seus Blue Caps, Roupa Nova, Azymuth e o Black Rio. O nível técnico destes caras era altíssimo: os arranjadores chegavam ao estúdio com as partituras e a coisa tinha que sair meio que na hora, ali, de bate-pronto. Muitas vezes, nem sabiam para quem estavam gravando.
Raul Carezzato, dos Carbonos, numa entrevista cedida ao jornalista André Barcinski, para o livro Pavões Misteriosos, contou que, em 1969, gravou uma música para o maestro Rogério Duprat, e, meses depois, ouviria a música no rádio e descobriria que havia tocado na gravação da faixa “Que Pena”, de Jorge Ben, lançada em um disco da Gal Costa.
Os Carbonos protagonizam uma parte curiosa na história da indústria musical brasileira. É que aqui, com muito mais volume que nos EUA, talvez, as atividades destes grupos de músicos especialistas acabaram tendendo à reprodução fiel de sucessos estrangeiros, a princípio. Desenvolvendo, involuntariamente, aquilo que chamamos “cover“.
A peculiaridade dos Carbonos vai se sofisticando quando se observa a relação dos integrantes: três irmãos, sendo dois gêmeos, que eram sobrinhos dos Trigêmios Vocalistas. Assim, um grupo especializado em fazer cópias musicais, com dois membros sendo quase cópias fiéis uns dos outros, deu origem à prática musical que para muitos funciona como uma espécie de erva daninha à produção autoral.
No início da carreira a banda se apresentava como The Witchcraft. Depois mudaram para Os Quentes – com este nome chegaram a lançar um compacto pelo selo Mocambo/Rozenblit. Finalmente, em 1966, adotaram, por sugestão da gravadora Beverly, Os Carbonos, numa referência à semelhança dos irmãos, mas também às versões idênticas de sucessos internacionais que o grupo executava.
Mas nem só do cover viviam os Carbonos: acompanhavam alguns nomes da Jovem Guarda. Paulo Sérgio e Wanderley Cardoso são exemplos. Gravaram canções que se converteriam em sucessos com Nelson Ned, Morris Albert e a dupla João Mineiro e Marciano. Em 1968, lançaram o álbum As 12 mais da juventude.
Integravam Os Carbonos: Mário Bruno Carezzato, nos teclados, Humberto Carezzato Sobrinho, no baixo, Raul Carezzato Sobrinho, no vocal, Ricardo Fernandes de Morais, na guitarra, e Antônio Carlos de Abreu, na bateria. Entre compacto e elepês, a banda laçou 10 registros entre as décadas de 1960 e 1970.
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