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Águas fortes cênicas

porBruno Zambelli
12 de janeiro de 2017
em Teatro
A A
águas fortes cênicas teatro

Foto: Reprodução.

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“Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que quero”
                                                      Álvaro de Campos

Apesar de conhecidos, os movimentos dos mares são sempre imprevisíveis. Sabemos que as ondas bailam em seu eterno vai e vem, numa batalha perene contra rochedos e bancos de areia. É evidente que a espuma branca continuará a beijar eternamente os pés morenos dos pescadores, mesmo que muitos deles acabem desaparecendo em meio ao seu hálito de tempestade vez ou outra. Corais belíssimos continuarão a cortar feito navalha a carne humana que ousa desafiá-los e sempre nos inclinaremos a crer na eternidade quando olharmos aquele pontinho infinito onde o céu se mistura ao mar diante de nossos olhos. Apesar de algumas certezas, a incógnita é sempre um fantasma diante de águas desconhecidas. É impossível saber, por exemplo, o caminho exato das correntes ou a força empregada por Netuno em seus efervescentes murros d’água. O mar guarda mistérios impensáveis em seu ventre salgado, por isso parecemos hipnotizados quando nos deparamos com suas belezas e imaginamos a profundidade de seus mistérios.

Assim como a morada de Iemanjá, a vida também tem seu lado oculto e é tão traiçoeira e encantadora quanto os verdes oceanos que banham as nossas encostas. É impossível prever os acasos que se atropelam pela existência. Insuficiente planejar e desejar algo diante da impossibilidade. Estamos todos aqui, feito pobres diabos expostos ao sol, em busca de uma dose violenta de felicidade ou de qualquer outra coisa que aplaque o tédio em que transformamos os nossos dias. Vez ou outra temos o desânimo e a covardia enquanto companheiros, em outras tantas, resta-nos o mar: infinito líquido onde podemos transbordar o nosso espírito e afogar os medos que nos ancoram diante do mundo.

Como o mar e a vida é o teatro: um eterno desconhecido que guarda em suas profundezas mistérios encantadores, deuses violentos e fantasmas indecifráveis. Como o mar, o teatro é infinito e também aguarda o nosso derramar em suas águas. Como a vida, o teatro um dia deixa de habitar nossos corpos, tirando-lhe a presença e os sonhos. Teatro mar, morada do delírio! Alguns se contentam em vislumbrar de longe essa beleza. Estão sempre por ali, a observar as ondas do horizonte. Algumas vezes desejam intimamente um mergulho profundo, desses sem volta, para saciar a sede de palco. No entanto, quando se aproximam, voltam imediatamente ao sentir o toque suave da espuma na ponta dos pés voltam, feito criança que nunca se banhou à beira-mar. Correm de si mesmos e continuam secos, apesar do insuportável calor que emana de seus corpos.

Como o mar, o teatro é infinito e também aguarda o nosso derramar em suas águas. Como a vida, o teatro um dia deixa de habitar nossos corpos, tirando-lhe a vida e os sonhos.

Outros, por sua vez, vivem à deriva: nadando insistentemente contra a corrente. Esses são aqueles que não tem receio do auto-mar, que se entregam às forças das marés crentes de que é possível transformar o mundo. O medo do afogamento é menor do que a necessidade de horizonte. Seguem feito rios, rumando um caminho sem volta, rasgando a lama mundo a fora em busca de um oceano onde possam desaparecer por um tempo, para depois renascer em tormenta. Desaguam a dor da vida ali, naquele pequeno pedaço de sanidade líquida que existe no breu de cada coxia. O silêncio diante do terceiro sinal é o mesmo que aterroriza-nos quando encaremos a escuridão do mar em noites de lua cheia.

Diante dessas três forças, o mar, a vida e o teatro, somos todos insignificantes. O mar é água que corre, bate no peito e inquieta a alma. É força de torrente a quebrar nossas correntes, liberdade que contagia e infinito que encanta. A vida é tormenta! É ansiedade e desespero, é rotina e destempero. É assombração! Mas também é calmaria. É vontade de abraço, é sorriso de criança e cheiro de hortelã. É a boca vermelha com gosto de vodka e nicotina que não nos deixa dormir, e nós seguimos seus lábios feito zumbis apaixonados e adictos, em busca do amargor de seus excessos. E o teatro? O teatro é todo resto. É tudo que é tanto, apesar de querermos cada vez mais. É o que nos dá força diante da vida quando o mar está tão longe que o cheiro da maresia se confunde com a saudade. É o hiato entre a vida que nos afoga e o mar que nos liberta.

Tags: Artes CênicasTeatro

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