A história de Ney Matogrosso confunde-se com a do Brasil a partir da segunda metade do século XX, e é marcada por uma busca incessante pela liberdade, por independência criativa. Essa jornada, que se desenrola tanto em sua música quanto em sua vida pessoal, foi apresentada ontem, no palco do Guairão, dentro da programação do Festival de Curitiba, de forma emocionante, ainda que imperfeita, no espetáculo Ney Matogrosso – Homem com H.
A peça, com texto de Marilia Toledo e Emílio Boechat, mergulha nos momentos mais significativos dos 82 anos de Ney, especialmente destacando os desafios e as lutas pela independência pessoal e criativa que marcaram os primeiros 50 anos de sua vida.
No palco, Renan Mattos personifica de forma excepcional o papel de Ney na fase adulta, capturando com maestria a singularidade da expressão corporal do artista. Sob a direção de Fernanda Chamma e Marília Toledo, o espetáculo ganha vida com cenas ágeis que desenrolam a história de Ney, enquanto a voz inconfundível do cantor, com seu alcance de contratenor, é homenageada nas interpretações de músicas emblemáticas, como “Mal Necessário” e “Mulheres de Atenas’, sem falar do repertório do mítico Secos & Molhados.
No palco, Renan Mattos personifica de forma excepcional o papel de Ney na fase adulta, capturando com maestria a singularidade da expressão corporal do artista.
O ponto alto da peça é a própria trajetória de Ney, uma narrativa tão envolvente que consegue cativar o público sem depender exclusivamente da música. Desde sua juventude, desafiando a autoridade de seu pai militar, até sua transformação em Ney Matogrosso em 1973, a história do artista é um verdadeiro turbilhão de emoções e conquistas.
O espetáculo segue a linha do tempo da carreira artística de Ney, com o elenco interpretando uma variedade de personagens importantes em sua vida, como Luhli, João Ricardo, a frenética Regina Chaves, Rita Lee e o produtor musical Marco Mazzola. Embora as músicas não sigam a ordem cronológica de lançamento de Ney, elas são habilmente selecionadas para impulsionar a narrativa e aprofundar a compreensão de sua jornada.
‘Ney Matogrosso – Homem com H’: aids
Destaca-se a interpretação emocionante da música “Poema”, especialmente nas cenas tocantes em que Ney interage com um Cazuza debilitado pela aids. O espetáculo também lança luz sobre o terceiro e último grande amor de Ney, Marco de Maria, cuja vida foi tragicamente abreviada pela mesma doença.
Com um cenário funcional composto por rampas e praticáveis, o espetáculo mantém o ritmo da narrativa, embora algumas cenas secundárias e supostamente engraçadas, como a da fã que pede autógrafos, possam parecer dispensáveis em relação ao contexto mais amplo da história.
Para aqueles que não estão familiarizados com Ney, o musical oferece uma visão detalhada de sua vida, destacando uma postura firme e autêntica que sempre foi característica do artista.
Mesmo sem adotar uma abordagem militante, Ney sempre utilizou suas ações, seu corpo e sua música como ferramentas em sua busca incessante pela liberdade de expressão e autenticidade.
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