As linhas conectam-se em outra dimensão, onde os sentidos multiplicam-se para além da nossa presença. São conexões que mostram o silêncio gritante de nossos interiores apavorados pelo medo solto no ar urbano. Existe nisso tudo um ruído agudo que permanece violentamente em nossa cabeça.
A interpretação nos permite entrar numa composição virtual ligada às desumanidades do mundo vivo, sofremos da ausência de coração, da comunicação engaiolada de toda liberdade que suspiramos. Navegamos por entre as redes presas na livre vontade de expressão. Somos conduzidos pela voz do olhar sustentado pela câmera que escapa em detalhes performáticos. Entramos na atuação escondida presente em Daniele Viola, performer que nos mostra as opressões (in)visíveis de nosso cotidiano no espetáculo Para Além das Gaiolas, apresentado no Sesc Prainha, em Florianópolis.
No palco, o espelho reflete a imagem de si, dos outros que existem em nós. São observações constantes de como permanecemos em um mundo violento, onde as mulheres são silenciadas pela fumaça negra das civilizações hierarquizadas de ódio. Ainda é preciso lutar, se desconectar do impossível e resistir com quem nos fornece uma ligação do mesmo pensamento libertário.
Aqui fora, somos seres engaiolados querendo escapar num grande voo de almas silenciadas. Cruzamos de uma janela a outra buscando modificar as opressões que ainda emitem sinais de uma conjuntura retrograda. Buscamos bradar o silêncio agonizante que ouvimos cotidianamente.
Ainda é preciso lutar, se desconectar do impossível e resistir com quem nos fornece uma ligação do mesmo pensamento libertário.
Há uma terceira dimensão composta pela dança que vibra em nosso olhar, um organismo ligado ao que refletimos em nossas imaginações. O corpo além de carne é uma onda movente que expressa os gritos constantes da sociedade. A violência dos lugares, da mídia e das sensações estranhas interfere na ligação do real sentimento humano. É preciso haver sinal de vida para dançarmos com a nossa arte de sobreviver. Seguir o tempo com a esperança de encontrar as linhas que movem o humanismo e sentir a total essência de viver sem as assombrações que sentimos ao andar pelas ruas.
O desenho performático brinca num ambiente aberto que se fecha numa gaiola de linhas esticadas a outros horizontes. Aqui, somos outros seres além de nosso corpo, além do que nos cerca nessa conexão de sentidos que buscam informações de alívio real de nossos olhares. O importante é seguir entre linhas num processo híbrido onde não haja interferência de valores, desligados dos padrões socioeconômicos entregues ao som frenético que dilacera o estranho corpo feito de sensibilidades. Precisamos voar desconectados da prisão rastreada pela lei sistemática de nossos tempos.