Na próxima sexta, 07 de Agosto, estreia no YouTube da CL Produções Digital o espetáculo Que Absurdo! – Teatro Digital Ao Vivo. Escrito e dirigido por Cícero Lira, jornalista e professor de teatro, e protagonizado pelo premiado ator Thadeu Peronne, o monólogo cumpre temporada virtual até o dia 30 de Agosto, sempre aos fins de semana, e é um projeto desenvolvido para ser apresentado no YouTube através da página da CL Produções Digital. Além de Cícero e Peronne, a obra conta com a colaboração de parceiros criativos como a design visual Miriam Fontoura, o compositor e musicólogo Harry Crowl e o cantor, compositor e percussionista Thiago Mocotó.
Que Absurdo! conta a história de um artista isolado que recebe uma visita inesperada. Durante este encontro, ele faz revelações sobre seu passado e reavalia a carreira que está em crise. Perturbado por um pesadelo recorrente que o coloca sempre diante do caos, o personagem busca refúgio na arte para tentar se libertar e dar sentido à sua vida. O diretor Cicero Lira explica que por conta do isolamento social os ensaios com o ator foram realizados virtualmente, assim como parte do processo de concepção artística e produção. “Estamos nos adaptando a essa nova realidade. Algumas produções, como o teatro feito em casa, já estão acontecendo. Estamos aprendendo com esse processo híbrido”.
De acordo com Lira, o debate sobre o fazer teatral em tempos de pandemia é importante. “Não tenho dúvidas de que o teatro é a essência do lugar do encontro presencial entre público e atores, porém o momento pelo qual estamos passando é único. Assim que tudo isso passar voltaremos a encenar nos teatros”, afirma. Para o ator Thadeu Peronne, a cena cultural está passando por um momento complexo, mas a arte resiste. “Alguns grupos de teatro no país e no exterior já estão propondo novos formatos. Apesar da crise que enfrentamos, tenho visto projetos muito interessantes”.
‘Alguns grupos de teatro no país e no exterior já estão propondo novos formatos. Apesar da crise que enfrentamos, tenho visto projetos muito interessantes.’
Se enganam os que pensam que apenas a questão do isolamento coloca o espetáculo Que Absurdo! no mapa das atuais aflições humanas. Assim como na crise vivenciada pelo personagem de Peronne, os artistas também atravessam um período de caos. As incertezas em relação ao futuro, o descaso representado pelo presente e o desespero diante da impossibilidade, ingredientes imprescindíveis a qualquer estado de horror, fazem parte da realidade de todos os trabalhadores da cultura que assistem o sucateamento promovido pelo atual governo brasileiro, intensificado pelo o avanço da pandemia nesse país omisso.
Lá se vão quatro meses desde o início da quarentena em terras tupiniquins. Vivemos numa realidade tão absurda e doída que atualmente não seria exagero dizer que, apesar do nosso histórico de tragédias e injustiças, nunca foi tão difícil ser brasileiro. E talvez nunca tenha sido mesmo. Paciência. Apesar de tudo, desse acúmulo de mortes, das omissões criminosas e do futuro incerto, resistimos. Se existem homens cuja crueldade chega a ser obscena, como é o caso do clã Bolsonaro, existem também artistas como Cícero Lira, Thadeu Peronne e toda a turma do Que Absurdo! – Teatro Digital Ao Vivo: artistas que, mesmo diante da impossibilidade, conseguem enxergar uma saída para continuar produzindo teatro de qualidade num país estraçalhado.
Pessoas minúsculas, como os atuais governantes do Brasil, passarão sem deixar vestígios, legadas à lata de lixo da história e à ira popular. Pessoas imprescindíveis, como os artistas envolvidos na produção desse espetáculo, permanecem, criam raízes e brotam em flor nos lembrando de que independente da intensidade do inverno sempre haverá a primavera para nos fazer olhar novamente pro céu em busca da claridade.
Como disse muito bem o ator do espetáculo: a arte resiste, e essas resistências, simples e fecundas, hão de nos livrar de todo o horror que por hora nos obriga a existir meio pelo avesso, a viver pela metade. Afinal, o grande absurdo atualmente é dizer que teatro digital não é teatro, e o espetáculo Que Absurdo! prova isso com a precisão e a dignidade que poucas obras encontram nesses tempos de hiato.