A verdade é que quase tudo é ponto de partida para uma série, mas existem alguns momentos que elas próprias tornam-se pontos de partida para novos shows. Por vezes, chegam a fazer tanto sucesso quanto os originais. Em outras, causam em nós uma imensa vergonha alheia.
Nós brasileiros acabamos tendo acesso, na maioria das vezes, apenas aos spin-offs mais recentes, como NCIS, CSI Miami e Better Call Saul, ainda que, em alguns casos, séries mais antigas tenham chegado a ser exibidas nas emissoras abertas brasileiras, especialmente Rede Globo e Band. Mas arriscar em dar prosseguimento à história de um personagem (ou vários) é uma estratégia antiga. Que tal conferir alguns imperdíveis?
Os Simpsons
Um dos maiores sucessos da FOX, Os Simpsons são, sim, um spin-off. A informação pode não ser surpresa para muitas pessoas, mas ainda tem quem não saiba que a família de desenhos amarelados favorita do público há 28 temporadas começou como uma série de curtas dentro do programa de variedades The Tracey Ullman Show.
Após um enorme sucesso dos curtas, que no programa tinham duração de no máximo 2 minutos, a emissora encomendou a produção de uma série exclusiva para Os Simpsons. Ironia do destino, meses após a estreia da série de Bart, Homer e cia, a FOX cancelou o The Tracey Ullman Show. Enquanto isso, Os Simpsons seguem “prevendo o futuro” na televisão.
A Mulher Biônica
Lindsay Wagner marcou época na tevê com sua Jaime Sommers, a ciborgue que surgiu como um personagem pontual em um especial de 2 horas de O Homem de Seis Milhões de Dólares, outro grande sucesso da década de 1970. Exibida no Brasil originalmente pela Rede Globo, a série chegou a ser reprisada pela Band anos mais tarde.
Foram 3 temporadas da série, que chegou ao fim em 1978, não sem ganhar 3 filmes de qualidade duvidosa entre 1987 e 1994. Em 2007, a NBC tentou fazer um reboot do show que, em virtude do fracasso retumbante de audiência, não passou da primeira temporada com apenas 8 episódios. Não mexam com os clássicos.
Law & Order: SVU
Law & Order é uma das franquias televisivas de maior sucesso na história da televisão norte-americana. Foram 20 temporadas entre 1990 e 2010, mas é com os spin-offs que a série garantiu a perpetuação na história da televisão.
Law & Order: Special Victims Unit é a mais bem-sucedida delas: já está em sua 18ª temporada, acompanhando a Unidade de Vítimas Especiais da Polícia de Nova York, que investiga apenas crimes sexuais considerados hediondos pelo sistema judiciário norte-americano.
Com roteiros inspirados em histórias reais, a série marcou época ao criar grandes personagens, entre eles Elliot Stabler (Christopher Meloni) e Olivia Benson (Mariska Hargitay), que apesar da tensão sexual constante entre eles e da torcida dos espectadores, nunca chegaram a ter um caso.
Melrose Place
Quando viveu os anos 1990 sabe como Barrados no Baile foi marcante para toda uma geração. Pois foi a partir dela que chegamos até Melrose Place, série que acompanhava a vida dos locatários do condomínio Melrose, em Los Angeles. Kelly Taylor (Jennie Garth) foi a personagem responsável por estabelecer uma ponte entre as duas séries, quando se apaixonou por Jake (Grant Show), que morava no condomínio Melrose.
No ar por 8 anos, Melrose Place era um seriado com roteiro muito mais maduro do que Barrados no Baile, ou mais crível. Com personagens adultos, ambição, traição, assassinatos e sexo soavam mais interessantes que no original, o programa tornou-se uma grande referência da cultura pop dos anos 1990.
Lou Grant
Lou Grant não entrou para a história apenas como mais um spin-off. Ela garantiu a nós a possibilidade de ver o ator Ed Asner em sua mais impressionante atuação no papel de Lou Grant, o editor do jornal Los Angeles Tribune.
A série é derivada de The Mary Tyler Moore Show, onde Grant era um produtor de TV que iniciava sua carreira no jornalismo. Após ser despedido da emissora WJM, depois de 5 temporadas, ele ganhou seu próprio seriado, que também durou 5 temporadas, e rendeu ao programa vitórias no Emmy por dois anos seguidos e no Globo de Ouro como melhor série dramática.
Para entender as razões que fazem de Lou Grant uma série fantástica basta saber que ela tratava de temas como proliferação nuclear, doenças mentais, prostituição e ética jornalística. Para completar, muitos episódios tiveram roteiro baseados em textos de Gay Talese escritor para o The New York Times.
The Jeffersons
Bem antes de Um Maluco no Pedaço e Black-ish ganharem o público apostando na representatividade ao dar voz à população negra – ainda que tenham feito isso de maneiras bem distintas, diga-se –, The Jeffersons abria um enorme espaço na tevê norte-americana.
Derivada de All in the Family, que foi enorme sucesso durante 9 temporadas na CBS e transmitida pela Band no final da década de 1980 com o nome de Tudo em Família, The Jeffersons ficou 11 anos no ar na mesma emissora. É a segunda mais longa série norte-americana (em número de episódios exibidos) com o elenco majoritariamente composto por atores e atrizes negros, tendo sido superado apenas em 2012 por Tyler Perry’s House of Payne, da TBS.
Foi responsável por exibir o primeiro casal interracial de relevância da teledramaturgia nos Estados Unidos (interpretados pelos atores Franklin Cover e Roxie Rocker), e abordar temas até então considerados polêmicos como racismo, homossexualidade, feminismo, menopausa e impotência sexual. Ganha relevância maior quando nos lembramos que, à época, os Estados Unidos só derrubaram as leis antimiscigenação completamente em 1967.
Angel
Buffy – A Caça Vampiros é, assim como Melrose Place, uma grande referência da cultura pop dos anos 1990. Sendo assim, Angel, o spin-off de Buffy, já estreou na tevê carregado de expectativa.
O seriado acompanhou a vida do vampiro com alma Angel, quando este parte para Los Angeles fugindo do amor impossível com Buffy. A série tem uma gigantesca riqueza metafória, abordando conceitos de redenção e ambiguidade moral. Mesmo a estética do show era representativa, optando por uma linha policial noir em contraposição à sua série mãe.
Angel chegou a ter resultados mais expressivos em termos de audiência que Buffy – A Caça Vampiros, e terminou após sua quinta temporada deixando fãs cheios de saudade. Compreensível.
Laverne & Shirley
8 anos no ar e uma influência inegável na cultura norte-americana. Eu até poderia falar de Happy Days, sitcom de enorme sucesso durante a década de 1970, mas é Laverne & Shirley que tem lugar especial na história da teledramaturgia. Foi por anos o programa com protagonistas femininos de maior duração (superada por Charmed) e pioneira na arte que seria aprimorada anos mais tarde por Shonda Rhimes.
Comandada pela dupla Shirley Feeney (Cindy Williams) e Laverne De Fazio (Penny Marshall), Laverne & Shirley tem como curiosidade o fato das personagens terem sido criadas apenas para uma breve exibição em Happy Days. Hoje, imaginar um mundo sem a dupla eternizada por Cindy e Penny é impossível. Que dizer da personalidade marcante e dos inúmeros debates surgidos a partir do show, então?
Star Trek: A Nova Geração
A franquia Star Trek surgiu na década de 1960 e foi impulsionada pela corrida espacial, além de ser inspirada em inúmeros conflitos reais de sua época. Soma-se a isso o fato de discutir temas como racismo, imperialismo, direitos humanos, sexismo e feminismo e temos a importância ganhada por Star Trek: A Nova Geração, o primeiros dos inúmeros spin-offs que a franquia ganhou ao longo dos anos.
O programa passava em uma época 100 anos distante da original e surgiu como aposta da Paramount, que decidiu não seguir pagando os altos salários exigidos por William Shatner (Capitão Kirk) e Leonard Nimoy (Spock).
No total, foram 7 temporadas, que renderam nada menos que 18 Emmys e a única série de sindicação indicada à categoria de melhor série dramática na história. Sucesso pouco é bobagem, não?
Frasier
39 Emmys, maior número de vitórias consecutivas na categoria melhor série de comédia (cinco, empatado com Modern Family), recorde de personagem interpretado por mais tempo no horário nobre (Kelsey Grammer ficou no ar durante 20 anos consecutivos) e 265 episódios ao longo de quase 11 anos.
Os números são impressionantes, mas não representam toda a importância de Frasier para a televisão. Ele é, certamente, o mais bem-sucedido spin-off da história. Derivada da clássica Cheers, acompanhou a vida do psiquiatra Frasier Crane quando este retorna à sua cidade natal, Seattle, para apresentar um programa de rádio. Seu pai, Martin Crane (John Mahoney) e seu irmão, Dr. Niles Crane (David Hyde Pierce), também protagonizam o show, que com seu roteiro excêntrico conquistou público e crítica, tornando-se, ainda por cima, uma série necessária à compreensão do atual cenário da teledramaturgia no mundo.
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