De volta à grade do SBT para a temporada 2018, Bake Off Brasil surfa na onda dos reality shows de competição de talentos (e volta se anunciando como o mais assistido reality culinário da TV, numa clara afronta às temporadas sucessivas de MasterChef Brasil, na Band). Mas os primeiros episódios de Bake Off já esclarecem: o programa continua passando longe do tom realista do concorrente. Quer, como nas temporadas anteriores, ser uma atração algo bizarra, pouco crível – e por isso mesmo divertida – para os sábados à noite.
Explico: Bake Off Brasil constrói uma espécie de universo onírico particular do mundo dos doces, centralizado na ideia da tenda em tons pastéis onde os concorrentes fazem suas receitas – quase sempre bastante complexas, para que dali saiam os mais grotescos bolos e guloseimas. Mas o tom surreal acompanha não apenas o cenário, mas principalmente a seleção dos participantes: enquanto MasterChef Brasil parece agrupar pessoas que realmente imaginam seguir a culinária como profissão, Bake Off Brasil tenta reunir os personagens mais esdrúxulos quanto for possível.
Nesse sentido, o texto em que discuti a temporada 2017 permanece ainda mais atual hoje: os selecionados para 2018 parecem tão ou mais caricaturados que os da edição anterior. Curiosamente, são até semelhantes: há uma senhorinha que faz a linha “comida da mãe”, como havia em 2017 a dona Iaiá. Há uma drag queen extravagante e ruidosa, como era a funkeira Marina, a “Perereca”, em 2017. Há um maestro tenso, que repete a figura do monge. Há um homem na linha “os brutos também amam”, ou seja, um sujeito forte e bombado com dotes culinários delicados, como o participante José, em 2017. Há uma mulher militar, uma personagem profissional marcante, aos moldes da comissária de bordo da temporada anterior.
Tudo isso seria bastante normal ou esperado (que as pessoas tentassem chamar a atenção a todo custo num programa desse estilo), mas Bake Off Brasil tem a característica de reiterar essas caricaturas a todo instante. Já nos primeiros episódios, todas as ideias que se liga à carreira militar, como a disciplina, e mesmo bordões do filme Tropa de Elite (“Pede pra sair”) foram repetidos continuamente pela apresentadora. Ou seja, criatividade ou complexidade passam longe da narrativa configurada pelo reality do SBT.
A graça está justamente em consumir este reality exagerado, estereotipado, colorido, em que nada parece muito real. Há pouca realidade neste reality, em resumo, mas isso não parece aqui ser um problema.
Se por um lado isso torna o programa um tanto irritante, por outro, ele não promete nada mais do que uma diversão algo trash para um sábado à noite. E a graça está justamente em consumir este reality exagerado, estereotipado, colorido, em que nada parece muito real. Há pouca realidade neste reality, em resumo, mas isso não parece aqui ser um problema (diferente, mais uma vez, de programas como MasterChef Brasil, nos quais a autenticidade é uma chave para a leitura).
E, claro, uma peça fundamental é a presença dos três apresentadores, que atuam papéis claramente marcados e poucos mutáveis. A nova edição tem nova apresentadora (Nadja Haddad, que substitui Carol Florentino), e um novo jurado (o padeiro francês Olivier Anquier, substituindo Fabrizio Fasano). O único membro que permanece da antiga equipe é Beca Milano (que também faz parte do elenco de outro reality show do SBT, Fábrica de Casamentos).
Novamente, aqui suas atuações são bastante limitadas aos papéis que devem desempenhar. Nadja tem uma performance mais voltada ao sexy, enquanto Carol tinha mais carisma. Já Olivier, que consolidou uma figura meio “fofa”na TV a cabo, quando apresentava programas no canal GNT, assumiu um papel de malvadão que antes cabia a Fasano, e que, no caso dele, parece um pouco forçado.
No primeiro episódio, quando Anquier comparou um bolo de um participante a estrume, soou como uma fala claramente orquestrada para consolidar um papel. No entanto, sua crueza tipicamente francesa já rendeu bons momentos memoráveis para um reality show desse estilo. Também no primeiro episódio, uma participante que contava a história de sua infância triste teve que ouvir: “tem muita vitimização aqui, tá? Todo mundo passa por coisas difíceis, não só você”. Um diálogo que já valeu por toda a temporada.
Sem nenhuma novidade de fato (como praticamente todos os programas do estilo), Bake Off Brasil continua sendo, em 2018, uma boa atração para quem não tem nada melhor para fazer no sábado. No mínimo, rende umas boas risadas.