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Na entrevista de dona Alaíde, um consolo e uma vingança

porMaura Martins
5 de dezembro de 2016
em Televisão
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Em uma cena das replicadas da tragédia com o Chapecoense, dona Alaíde, mãe do jogador Danilo, consola o repórter da SporTV. Foto: Reprodução.

Em uma cena das replicadas da tragédia com o Chapecoense, dona Alaíde, mãe do jogador Danilo, consola o repórter da SporTV. Foto: Reprodução.

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A televisão é irresistivelmente atraída pela tragédia. De alguma forma, os fatos de grande impacto social reúnem vários elementos que parecem inatos à transmissão televisiva: os aspectos dramáticos, as especulações sem fim, as imagens impactantes. Além disso, a narrativa da tragédia parece reivindicar ao veículo um importante papel social, que é o de construir uma memória acerca da história e legitimar que ela pertence a todos nós (pense: o que você lembra de tragédias como a morte de Ayrton Senna, do acidente dos Mamonas Assassinas ou do incêndio na boate Kiss que não tenha visto pela televisão?).

No entanto, nossa relação com a tragédia televisiva é contraditória. Também estamos inevitavelmente atraídos pela transmissão dos fatos trágicos (pois eles nos ajudam, em alguma medida, a criar sentido a algo sem explicação), ao mesmo tempo que nos sentimos explorados emocionalmente por aquilo que vemos. É como se, mesmo sabendo que é extremamente desgastante em múltiplos sentidos, não conseguimos desligar à TV para assistir ao sofrimento alheio – que, obviamente, também é nosso.

A tragédia do time da Chapecoense é peculiar em diversos aspectos. Envolve, a começar, uma alta quantidade de mortos (o que, no jornalismo, é um critério relevante para medir o impacto de um fato), quase todos jovens (agravando a sensação de injustiça de “vida não vivida”), o que fortalece a sensação de acontecimento totalmente inesperado. Além disso, a tragédia se mistura a outra forte narrativa – a do time que, do nada, galgou grandes resultados, tal como um Davi frente a tantos Golias – mas cuja história se encerra incompleta, permanece eternamente em aberto. Tudo isso aumenta, então, a necessidade de que os veículos de comunicação nos digam o que sentir a partir disso.

A TV, sobretudo, toma para si esse papel de catarse coletiva, e praticamente todos os programas e emissoras – dos telejornais ao The Voice e o Vídeo Show – trataram desde então deste acontecimento. A chamada isenção jornalística (se é que ela alguma vez existe nesse tipo de cobertura) torna-se ainda mais distante em razão de que muitos profissionais do jornalismo também morreram, e suas mortes precisam ser relatadas pelos próprios colegas.

A cobertura, embora cansativa, tem sido múltipla: foram desde os primeiros relatos estupefatos nos jornais matutinos que se seguiram à noite da queda do avião, às análises técnicas do que poderia ter acontecido (lembremos também que acidentes envolvendo aviões mexem com um medo incrustado na população em geral), homenagens diversas aos esportistas e aos jornalistas mortos, cujas reportagens antigas chegaram a ser veiculadas novamente no Globo Esporte).

A narrativa da tragédia parece reivindicar à televisão um importante papel social, que é o de construir uma memória acerca da história e legitimar que ela pertence a todos nós.

Creio que esteja havendo uma cobertura razoavelmente sóbria, na medida do que é possível, pois também há uma população vigilante nas redes sociais a denunciar os excessos. Um sintoma disso é que foi absolutamente louvada a iniciativa da SportTV de assumir uma posição de que não correria atrás das famílias dos jogadores para tentar exibir os seus óbvios sentimentos frente ao trágico.

Foi exatamente o contrário do que fez o Jornal Nacional, conforme apontou o crítico Mauricio Stycer, caracterizando a cobertura do noticiário feita no sábado (03/12) como uma “exploração grosseira” do fato. Em suma, a repórter Kiria Meurer fez o uso de dispositivos tecnológicos (no caso, um celular) para gravar cenas onde a imprensa não era bem-vinda, invadindo a privacidade das famílias; além disso, empregou do expediente já desgastado das perguntas óbvias que buscam gerar respostas emotivas nos entrevistados, muito mais típicas dos programas policialescos do que do robusto Jornal Nacional. A reportagem foi prontamente defenestrada nas redes sociais.

Há um evidente contraste desta reportagem com aquele que talvez seja o momento chave a definir esta acontecimento em sua emissão televisiva, uma espécie de money shot deste episódio trágico. Falo do muito comentado (e compartilhado) vídeo em que a mãe do jogador Danilo é entrevistada pelo repórter Guido Nunes, da SporTV, e o inquire, levando o jornalista às lágrimas.

Chamou-me a atenção a repercussão do episódio, evidentemente muito comovente. Mas o que acontece ali e por que o episódio nos toca tanto? Examinemos o vídeo completo (assista abaixo), e não apenas o momento central, que é quando dona Alaíde Padilha assume o controle e pergunta ao repórter sobre qual a sensação dele de perder tantos colegas. Se formos examinar todo o encontro entre jornalista/fonte, veremos que Guido está, em alguma medida, investindo nas perguntas bastante criticadas ao estilo “como você se sente?”.

Ele pergunta como foi o último contato com o filho, como ela recebeu a notícia da tragédia, se sabia que um filho era um herói a tantas pessoas. Algumas de suas falas nem são exatamente questões, mas pontuações que buscam simplesmente ativar a comoção (como: “imagino que o mais difícil foi o Danilo ter chegado com vida no hospital”). Em outras palavras, ele investe (conscientemente ou não, pouco importa) nas perguntas que buscam o tão famigerado objeto de desejo da televisão: a lágrima (o signo máximo do sentimento genuíno) que se prenuncia no olho da mãe.

E aí emerge a grande virada da entrevista: a resistência de dona Alaíde, que não cai no jogo televisivo da comoção e responde, impassível, às perguntas do repórter (certamente, estava tomada ainda pelo choque da perda do filho). Por fim, dona Alaíde toma as rédeas da enunciação e faz o que nenhum jornalista espera: vira ela mesma entrevistadora e meio que “rebate” na mesma moeda, jogando ao repórter a mesma “carta” da comoção.

Ocorre, então, o abraço entre fonte e repórter, este último por fim desarmado de sua função profissional e, por isso mesmo, tornado mais humano. A tragédia adquire neste momento uma grande protagonista, que desempenha o papel de uma espécie de mãe de todos nós (de quem esperamos força no momento em que todos desabam) e, por que não, concretiza uma espécie de vingança coletiva aos recursos já batidos usados pelo jornalismo de televisão.

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