Por Bruna Bottin*, especial para Escotilha
As minhas séries favoritas são aquelas onde consigo me identificar com os personagens. A questão é que sou mulher, e meu gênero não é bem representado na TV. Então, muitas vezes me identifico com os homens, que são mais complexos e reais em suas adaptações. Aqui vale ressaltar que, segundo uma pesquisa da Universidade de San Diego, as mulheres representam na TV e no cinema 12% dos protagonistas, e quando analisaram então as personagens femininas secundárias, chegou-se a conclusão de que apenas 31% possuem falas. Chocante, né? O cenário feminino na indústria do entretenimento é um reflexo do mundo em que vivemos, mas, ironias a parte, ele está melhorando sim, pois cada vez mais estamos cruzando com personagens de destaque e bem desenvolvidas.
Vamos analisar Olivia Pope, de Scandal. A intensa personagem – baseada em Judy Smith, uma mulher real e interpretada pela articulada Kerry Washington – é um ótimo exemplo do que quero abordar. Ela é badass, a solução para o problema de qualquer um. Ninguém lida com uma crise como Olivia Pope.
Independente financeiramente, mulher que não leva desaforo para casa, de postura firme, Olivia é forte, não no sentido físico da palavra, mas psicológico. É capaz de manipular qualquer um de acordo com o seu interesse. Então eu pergunto: qual a fraqueza de Olivia? Um homem, óbvio. E não é qualquer homem, é o Presidente dos EUA, ou seja, ela se desconstrói completamente quando o assunto é seu grande amor impossível.
Se isso fosse apenas um pano de fundo, algo para dar uma apimentada ali ou aqui na trama, mas não é o caso. A vida amorosa de Olivia é de fato a história principal, enquanto os casos de sua firma de gerenciamento de crise servem para acompanhar o enredo.
Scandal tem seus atributos. É protagonizada por uma mulher negra que lidera com sucesso uma série há quatro anos no ar, mas que ainda está presa a certos estereótipos e clichês femininos, infelizmente.
Esse pode ser o drama de qualquer ser humano, independente do gênero, mas não é o caso de Judy Smith, personagem que inspirou a série. Ela impressionou Shonda Rhimes, a criadora de Scandal, por ser uma mulher negra que se destacou profissionalmente, porém, apenas isso não garante audiência. Então, foi necessário uma grande dose de água com açúcar para garantir que a sociedade aceitasse e gostasse de Olivia. Fosse Scandal estrelada por um homem, provavelmente não existiria esse caso de amor tão controverso a personalidade do personagem.
Scandal tem seus atributos. É uma produção com mais de uma mulher marcante (a psicótica Quinn – reflexo exato do Huck –, e a sincera Abby – que tem a personalidade determinada pela trama com o ex-marido abusivo), protagonizada por uma mulher negra que lidera com sucesso uma série há quatro anos no ar, reconhecida em premiações importantes da indústria, possui diálogos rápidos (e muitas vezes afiados), mas que ainda está presa a certos estereótipos e clichês femininos, infelizmente.
Então, vou finalizar esse post com algumas indicações de séries protagonizadas por mulheres interessantes, que estão quebrando certos tabus. Assistam e reparem como essas personagens são bem elaboradas:
The Fall – o nome Gillian Anderson já deveria ser motivo suficiente para iniciar uma maratona agora. Gillian – interpretando uma Detetive complexa e difícil de desvendar – é como a alegria hipnotizante de fogos de artifícios no Ano Novo.
The Affair – a atriz Ruth Wilson está tão intrigante. Sua personagem é sedutora, mas também sofrida. É alegre, mas ao mesmo tempo depressiva. Tudo isso graças a narrativa sensacional que a roteirista Sarah Treem nos apresenta, dividindo a série pelo ponto de vista masculino e feminino da dupla de amantes.
The Good Wife – o curioso é que o drama estrelado por Juliana Margullies inicia de uma maneira bem estereotipada: a mulher traída que mesmo assim fica ao lado do seu marido. É só reparar o nome da série, A Boa Esposa. Não demora muito para mostrar algo bem mais verdadeiro sobre a dona de casa que precisa voltar a trabalhar. Alicia Florrick é confusa, é real, tem interesses, tem dúvidas, medo e coragem.
Broad City – Ilana e Abbi arrasam nessa comédia. Diálogos ágeis, piadas atuais e inteligência para desenvolver manobras perfeitas para entregar um conteúdo arriscado na TV. Feminismo está em todo o lugar na produção, nada de entrelinhas, é direto e reto.
* Bruna Bottin é estudante de Relações Públicas na UniRitter, mesmo local onde trabalha como organizadora de eventos acadêmicos, comerciais e corporativos.