Comédias de situação, as chamadas sitcoms, não carregam o mesmo impacto dos anos 1990, mas ainda ocupam um bom espaço na preferência do público norte-americano. E mesmo quando determinadas séries não utilizam risadas ao fundo para identificar a piada, elas continuam usando de uma estrutura tradicional. A técnica pode resultar tanto em seriados datados e com piadas fracas quanto em séries inteligentes que conseguem se mover no terreno do clichê. Santa Clarita Diet, nova comédia da Netflix, transita entre os dois caminhos. Não é uma péssima série, mas também não é marcante.
Criada por Victor Fresco, a série conta a história de Sheila (Drew Barrymore) e Joel (Timothy Olyphant), dois corretores de imóveis que vivem uma vida monótona em Santa Clarita, subúrbio de Los Angeles. Casados e com uma filha adolescente, os dois enfrentam alguns problemas no casamento e no emprego, até que, sem nenhuma explicação, Sheila acaba vomitando um órgão do próprio corpo e passa a comer apenas carne humana.
Santa Clarita Diet é basicamente uma versão boba de Desperate Housewives e Dexter. Muitas vezes as piadas funcionam, outras vezes apenas constrangem. O primeiro episódio é especialmente fraco e sem graça e os atores parecem completamente fora do tom, mas Santa Clarita vai encontrando o caminho conforme o roteiro avança e vai complicando a vida dos personagens, ainda que nada soe original. Já vimos donas de casa atrapalhadas lidarem com assassinatos na vizinhança e também já vimos um assassino matar apenas pessoas más. A diferença é que agora podemos rir da situação.
Muitas vezes as piadas funcionam, outras vezes apenas constrangem.
O problema – que na verdade pode nem ser um problema para alguns – é que a série é… boba. É uma sitcom disfarçada de uma produção de humor negro, mas sem o refinamento que o tema pede. Temos plots ridículos, como Drew Barrymore tossindo bolas de pelo ou devorando um cadáver inteiro durante a madrugada para evitar uma investigação policial. Também temos piadas com flatulência, arroto e vômito. O resultado depende única e exclusivamente do humor de quem a assiste. Dessa forma, é possível se divertir por horas assistindo ao casal atrapalhado aprontando as maiores confusões, assim como é extremamente compreensível que parte do público queira jogar a série no lixo.
Essa ambiguidade aparece nos dez episódios e faz a personalidade dos personagens mudar a cada minuto. Tanto Sheila quanto Joel alteram o humor a cada episódio e não há nenhuma profundidade em ninguém. Em determinada cena, Joel é o marido compreensível, na outra aparece em crise com a esposa. Em um episódio, Sheila é impulsiva e faminta, na outra é controlada e centrada. Embora as situações divirtam na maior parte do tempo, essa falta de trabalho na lapidação dos personagens acaba deixando tudo muito esquecível. Diverte, mas não por muito tempo.
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Mas, talvez, Santa Clarita Diet não queira marcar ninguém e deseje apenas ser um programa divertido e pontual. O que mais chama atenção, entretanto, é perceber como a estrutura clássica de se fazer comédia ainda está enraizada no modelo norte-americano. Tirando a premissa absurda, é como se estivéssemos vendo mais uma série de uma família que não segue padrões dentro de um bairro conservador. Como tantas sitcoms no ar atualmente, Santa Clarita Diet não é nenhuma grande série, mas não é horrenda. É apenas mais uma.