Continuando nosso primeiro olhar sobre as novas séries da temporada, hoje vamos para sete novas produções, sendo uma da NBC, uma da CBS, uma da FOX e três da ABC. Falando em ABC, o canal família veio forte este ano com várias séries com potencial, mas que pecam bastante na execução. Por enquanto, The Good Doctor parece que será o hit da temporada para o canal, mas ainda é muito cedo para entender a reação do público.
Antes de falar sobre as séries, uma curiosidade: tenho a impressão de que todos os anos os canais parecem escolher algum tema específico para predominar na TV. Somente nesta fall season, três emissoras estão lançando uma produção militar (NBC, CBS e The CW). A série da The CW, chamada Valor, não entrou nesta lista porque me pareceu trash demais até para o público adolescente do canal, então eu ainda não conferi.
Essa é a última parte das primeiras impressões, mas ao longo da fall season a coluna vai analisando as séries, levando em conta toda a temporada. É impossível assistir a todas, mas com o tempo a gente vai filtrando o que vale a pena e o que não vale.
The Brave (NBC)
É clichê em cima de clichê e apresenta aquela velha máxima dos EUA combatendo o terrorismo em diálogos forçados e patrióticos, mas funciona de certa forma como uma série de ação, embora não tenha o refinamento de SEAL Team (leia abaixo). The Brave gira em torno de uma equipe de elite de militares que usa técnicas de vigilância avançada para ajudar a executar missões perigosas ao redor do mundo e salvar pessoas inocentes.
A série traz um grupo de personagens carismáticos e que ensaiam uma profundidade e o episódio tem ritmo, embora os diálogos sejam um tanto pobres e eles quase sempre terminem suas ações com uma frase de efeito. É uma série para um público bem específico e que gosta de ação + militarismo + patriotismo. O final do primeiro episódio traz um gancho bacana para a gente acompanhar o próximo, mas nos deixa com uma sensação de que forçaram a mão para fisgar o público.
A audiência não anda muito bem e já há rumores de cancelamento. A NBC não anda acertando muito nesta temporada, mas tem a sorte de ter This is Us na sua grade, sucesso absoluto nos EUA.
SEAL Team (CBS)
Essa é uma típica série do canal CBS, conhecido por suas séries de ação e comédia de gosto um pouco duvidoso (Kevin Can Wait, The Big Bang Theory) e que, embora seja parecido com tudo o que a gente já viu (inclusive The Brave), a trama se apresenta acima da média e, pasmem, eu quero assistir mais. Basicamente, a série segue as vidas dos militares de elite da marinha Navy SEAL enquanto treinam, planejam e executam as missões perigosas e de alto risco e também precisam lidar com seus dramas pessoais.
A primeira grande crítica negativa da série é que ela tenta emular (ou copiar, como queiram) a elogiada série Six, do canal History, que traz praticamente a mesma problemática. De fato, as duas séries são bem parecidas, mas a da CBS é muito mais um escapismo e não tem muita pretensão de ser a melhor série de todas, mas de emplacar um grande número de espectadores. Ela lembra também NCIS, que faz um sucesso absurdo nos EUA há anos.
Por enquanto, The Good Doctor parece que será o hit da temporada, mas ainda é muito cedo para entender a reação do público.
O que faz de SEAL Team uma distração eficiente é que ela é menos, digamos, formulaica do que The Brave, mesmo que tudo o que possamos esperar de uma série desse tipo esteja lá. Entretanto, o texto é bem mais trabalhado, os personagens são estereotipados, mas quando você percebe isso já está torcendo por eles, e os plots te deixam tensos, mesmo você não querendo, além de contar com o carisma de David Boreanaz (Buffy, Angel, Bones). Não é nenhuma 24 Horas ou Homeland, mas foi feita para fisgar uma fatia do público que consome séries assim.
Inhumans (ABC)
Antes de estrear, Inhumans já mostrava inúmeros problemas que se confirmaram com a estreia, mas o grande erro foi ela ter gerado muita expectativa para um público exigente ao extremo, que são os leitores de quadrinhos. Primeiramente, a série foi desenvolvida para o cinema. Depois, foi realocada para a televisão. Mas como já tinham gastado os tubos, a série teve uma estratégia de divulgação de peso, com os dois primeiros episódios exibidos primeiramente nos cinemas IMAX de todo o mundo durante duas semanas.
Inhumans é mais uma série do universo Marvel e explora a história da família real dos inumanos, como Black Bolt, o Rei dos Inumanos, e Medusa, a Rainha. Depois de a família real ser estilhaçada por um golpe militar, eles conseguem escapar para o Havaí, onde precisam lidar com suas interações com a humanidade e fugir dos inimigos.
Acho que se a série não tivesse sido vendida como uma mega-hiper-gigante produção, a expectativa seria mais baixa e o que foi visto seria considerado bom, mas não foi o que aconteceu. Outro erro é ser exibida pela ABC, quando a série é a cara da The CW. Particularmente, eu, que tenho zero ligação emocional com esse universo, gostei do que vi. Dá para encontrar milhões de defeitos, mas não é nada tão diferente do que vimos em Smallville ou outras séries mais leves de super-heróis. Os efeitos especiais são bem tosquinhos, as roupas parecem bem feias (e me lembrou muito a brasileira 3%) e os atores também não são lá aquelas coisas, mas é interessante e dá vontade de saber mais sobre a história.
O problema é que a série mexeu com fãs muito ardorosos, que não aceitam menos do que fidelidade total aos quadrinhos e uma produção impecável para a TV. Fora que o público tem cada vez menos paciência de esperar uma série engrenar (culpa das maratonas, acho eu). A audiência está bem baixa e tenho quase certeza que Inhumans será uma das primeiras a ser cancelada.
Ten Days in The Valley (ABC)
É uma série mais adulta e eu estava esperando algo excelente na linha de American Crime, especialmente com a presença da excelente Kyra Sedgwick (The Closer). Não é tão boa assim.
Ten Days in the Valley terá dez 10 episódios e é centrada na produtora e roteirista de TV Jane Sadler, cuja filha desaparece no meio da noite enquanto ela termina de escrever uma cena de sua série policial. A história é basicamente isso e não traz novidade nenhuma em seu episódio de apresentação. É mais uma série sobre uma mulher forte e workaholic, que tenta manter o equilíbrio entre seu trabalho e sua relação com a filha
O mais interessante do piloto é a metalinguagem de uma série de TV mostrando os bastidores de outra série. Kyra Sedgwick é um deleite e é sempre um prazer vê-la atuando, por isso ela carrega tudo nas costas. O problema do piloto é que ele parece trazer tudo já em seus primeiros 40 minutos. Não há um grande mistério porque, bem no final, a gente acaba não se importando muito com a menina desaparecida e ficamos só no desespero da mãe, algo já visto 300 vezes. Mas merece um voto de confiança, já que Kyra Sedgwick costuma ser inteligente ao escolher um projeto onde deseja trabalhar.
Ghosted (FOX)
Parece ser uma paródia nonsense de Arquivo-X, o que me fez gostar (e rir) imediatamente. Ghosted acompanha dois caras que são recrutados pelo Bureau Underground (tipo um FBI para assuntos sobrenaturais, igual Arquivo-X) para investigar estranhas atividades na cidade de Los Angeles. Logo eles descobrem um mistério ainda maior que pode ameaçar a existência da raça humana.
Tudo é muito idiota e constrangedor, o que faz da série divertidíssima. Os protagonistas, Adam Scott e Craig Robinson, já são engraçados separadamente, mas juntos conseguem uma sintonia maravilhosa. As piadas são afiadas e a série acerta mesmo na interação entre os dois. A única coisa que enfraquece o piloto é quando o roteiro tenta se levar a sério demais ou força situações para que a gente se importe com o mistério, quando só queremos ver coisas sem sentido mesmo. Torço para a série encontrar logo o tom, porque pode ser uma ótima surpresa para a temporada.
The Mayor (ABC)
Essa segue a mesma vibe de Ghosted. Mas ao mesmo tempo em que é bobinha, traz um certo discurso político, brincando especialmente com a questão dos absurdos de Trump e de os eleitores terem votado numa pessoa tão excêntrica. The Mayor acompanha o jovem rapper Courtney Rose, que procura por uma grande oportunidade e chance no mercado fonográfico. Cansado de esperar, Courtney prepara o golpe de publicidade perfeito: ele decide concorrer para prefeito de sua cidade natal na Califórnia, apenas como forma de promover a sua carreira musical. Para o azar de Courtney, seu plano dá errado quando ele ganha as eleições e se torna, de fato, prefeito. Com a ajuda de sua mãe e amigos, incluindo Valentina (Lea Michele), Courtney terá de levar a sério seus compromissos se quiser transformar a cidade e cuidar dos cidadãos.
O primeiro episódio se preocupa em situar todos os personagens e apresentar toda a trama, então tudo sai um pouco apressado demais, já que vemos o protagonista no meio de uma campanha eleitoral, ganhá-la e já lidar com sua primeira crise. A série parece que seguirá um “problema da semana” de cada vez e trará bastante lição de moral, o que pode soar um pouquinho chato. Mas os acertos chamam atenção, ao menos neste começo, especialmente quando vão para um lado mais político e contrastam com a situação política atual.
É quase como se aquele episódio de Black Mirror, em que um boneco virtual chamado Waldo entra para a política, ganhasse uma versão leve de comédia. Não é lá muito engraçado, mas pode ser, digamos, agradável. A premissa é ótima e os roteiristas só precisam encontrar o tom e fazer com que os episódios arranquem algum sorriso do público.
Kevin (probably) Saves the World (ABC)
Com esse nome ótimo, a série da ABC é simpática do início ao fim, mas perde força por causa da duração excessiva de 42 minutos, quando 22 funcionariam muito melhor (mesmo caso de The Orville). A série segue Kevin, um homem que passa por uma fase ruim na vida e retorna para sua casa de infância no Texas para ficar com sua irmã gêmea viúva, Amy, e a sobrinha adolescente, Reese. É um retorno complicado, já que ele e sua família acabaram se distanciando ao longo dos anos e Kevin não tem nenhuma esperança de que as coisas venham a melhor. Mas após a queda de um meteorito perto de casa, Kevin encontra uma improvável guia celestial, Yvette.
A mulher dá notícias incríveis para Kevin: em cada geração, há 36 almas justas na Terra, cuja mera existência protege o mundo. Kevin é o último dos 36 justos. Sem os 36, o mundo começará a perder a única coisa que nos permite seguir firme por meio dos altos e baixos da vida: a esperança. Agora, Kevin tem uma missão, quer queira ou não: trabalhar sua alma com atos de bondade e altruísmo, de modo que ele possa encontrar uma nova geração de justos.
A premissa lembra bastante The Good Place, mas não é tão eficiente quanto, já que não pretende ter tantos elementos cômicos em cena como na série da NBC. Entretanto, Kevin (probably) Saves the World é um drama familiar leve com mensagens positivas, sem beirar o clichê e com situações que, se não arrancam gargalhadas, nos fazem dar um sorrisinho.