Entre o início e meados dos anos 2000, Raven-Symoné marcou época com a série de comédia That’s So Raven, exibida pelo Disney Channel. A partir do 2007, quando passou a ser exibida no Brasil nas tardes de sábado, no SBT, com o nome de As Visões da Raven, o programa passou a marcar, também, a vida de uma geração que hoje, 10 anos depois do fim do show, divide-se entre jovens adultos e os novos pais, muito em virtude da capacidade do seriado em dialogar com diferentes faixas etárias.
Pois o Disney Channel decidiu que era hora de investir em uma nova fase do show, seguindo algo semelhante com o que a Netflix fez com Três É Demais (Full House). A diferença é que se Fuller House não conseguiu emplacar na geração que acompanhou o programa a partir de 1989 até 1995 e tampouco com as novas, Raven’s Home, que estreia no Brasil no fim deste mês com o nome de A Casa da Raven, obteve um resultado curioso. Ao mirar nos filhos de quem acompanhou as aventuras de Raven e sua capacidade de antever o futuro, o Disney Channel acertou em cheio os pais e jovens adultos que seguiram As Visões da Raven.
Parte disso se deve fundamentalmente à premissa semelhante, juntamente com o retorno de personagens que ainda estão vivos no imaginário do público. Criada pela mesma dupla de As Visões da Raven, Michael Poryes e Susan Sherman, A Casa da Raven segue a dupla inseparável Raven e Chelsea (Anneliese van der Pol), agora adultas, mães divorciadas, mas ainda pouco maduras. Ambas dividem um apartamento em Chicago, depois que Chelsea se divorciou de um homem rico que foi preso, e do divórcio de Raven e Devon (Lil’ J). Junto delas, Booker (Isaac Ryan Brown) e Nia (Navia Robinson), filhos de Raven, e Levi (Jason Maybaum), filho de Chelsea.
Em contrapartida, ao acertar os pais, cria-se uma interessante possibilidade: a de juntar pais e filhos diante da televisão, falando com diferentes gerações.
As histórias passam a se cruzar com Booker herdando o dom da mãe de prever o futuro. Concomitantemente, Nia estabelece uma amizade com Tess (Sky Katz) muito semelhante a que a mãe tinha com Chelsea. No meio disso, a construção de um futuro meio terra arrasada, em que filhos e a eterna amizade de Raven e Chelsea é o que mantém a sanidade de ambas.
Vários elementos são pertinentes à análise deste retorno de Raven à televisão. É uma situação curiosa trazê-la divorciada e cheia de problemas, mas demonstra uma sensibilidade incrível de ler a realidade. Os Estados Unidos são o país do mundo com a maior taxa de divórcios do mundo. Também segue a tendência mundial de mulheres que são responsáveis por administrar o lar. Por último, a força centrada em personagens mulheres em uma série voltada ao público infantil passa uma importante mensagem sobre representatividade.
É bem verdade que a série carece um pouco de criatividade, mas é capaz de, quem sabe, fisgar os mais novos com os personagens infantis, ainda que o humor da série siga sendo conduzido pelas anteriormente protagonistas Ravén-Symoné e Anneliese van der Pol. Em contrapartida, ao acertar os pais, cria-se uma interessante possibilidade: a de juntar pais e filhos diante da televisão, falando com diferentes gerações. Mas, para isso, ainda precisa encontrar um equilíbrio entre o tom mais infantil, direcionado às novas gerações, e um humor mais maduro. Isso porque as piadas do núcleo adulto soam um tanto datadas, até mesmo repetitivas, como se tivessem sido recicladas.
Em época de tantos reboots programados pelas emissoras, este aqui tem cheirinho (bom) de saudosismo.