Good Girls é tão alto-astral que poderia muito bem estar na Sessão da Tarde. Consigo até ouvir o narrador: “Elas fogem das regras e agora têm que encarar uma gangue barra pesada. Vai rolar a maior confusão!”. Mas, felizmente, a coisa é um pouco mais complexa do que isso.
A série da NBC acompanha três mulheres passando por situações delicadas em suas vidas, tanto do ponto de vista financeiro quanto emocional. Olha só:
Beth Boland é dona de casa, mãe de quatro filhos (cinco, se considerarmos o seu marido abestado), que cuida de tudo praticamente sozinha. Seu marido compromete as finanças da família tomando decisões geniais — tipo comprar uma calcinha caríssima para a amante ao invés de pagar a hipoteca da casa.
Annie Marks é a irmã mais nova de Beth. Ela descobre que seu ex-marido bem de vida pretende processá-la pela guarda da filha e precisa de dinheiro para contratar um bom advogado. Caixa de um pequeno supermercado, é muito apegada à filha e se desespera com a possibilidade de perdê-la.
E, por fim, Ruby Hill é a melhor amiga de Beth e Annie. Ela sofre para pagar o tratamento da filha, Sara, que tem problemas renais. Garçonete, Ruby traz algumas das cenas mais ricas da série. É difícil não se frustrar com uma das cenas iniciais, quando Ruby leva sua filha ao médico: a falta de atenção e cuidado é gritante, assim como a diferença que a falta de dinheiro tem nas possibilidades de tratamento.
É nesse cenário que as três começam a brincar sobre cometer um crime. Poderiam assaltar o supermercado onde Annie trabalha, hahahaha. É claro que o “hahahaha” vira “fodeu”. As três decidem realmente assaltar o supermercado, sendo “só essa vez” que fariam algo assim. A confusão começa quando acabam levando mais dinheiro do que imaginavam, incluindo os lucros de uma gangue local que usava o lugar para lavar dinheiro.
O resto da história é, como já dito anteriormente, meio Sessão da Tarde. Elas se metem em uma trapalhada atrás da outra, misturando momentos de drama e reflexão (mas nunca tão dramáticos ou reflexivos assim) com comédia. É uma série leve que entretém, diverte e envolve. Além disso, os temas importantes, como a falta de dinheiro e a transgeneridade, são discutidos de formas refrescantes, diferentes das quais estamos acostumados.
Tipo Breaking Bad, mas mais alto-astral e empoderado
É uma série leve que entretém, diverte e envolve. Além disso, os temas importantes, como a falta de dinheiro e a transgeneridade, são discutidos de formas refrescantes, diferentes das quais estamos acostumados.
Enquanto assistia, Good Girls me lembrou uma mistureba de séries de sucesso. Ao estilo de Breaking Bad, acompanha pessoas comuns com uma vida secreta, voltada para o crime. O legal é que, dessa vez, o papel pertence às mulheres.
Ao longo da série, elas continuam cometendo crimes e indo atrás de dinheiro, mesmo quando não precisariam. Mas por qual motivo?
Talvez o empoderamento? Afinal, agora Beth não depende mais do marido traidor para garantir o sustento dos filhos. Annie pode se opor ao ex-marido, que tem uma vida confortável e não hesita em olhá-la de cima. Ruby não precisa do emprego degradante, em que fazia coisas como mexer uma panela de molho com o próprio braço.
A série também tem um estilo parecido com o dessas séries de drama dignas da TV a cabo, como Grey’s Anatomy ou Desperate Housewives. O drama nunca acaba, vindo de todos os lados, e nada nunca se resolve propriamente. Mas a gente nem sente tanto, já que momentos frequentes de comédia e leveza dão um respiro no meio disso tudo.
Good Girls tem um formato meio indefinido, o que acaba funcionando no geral. O elenco é ótimo, o enredo envolve e as tramas são cativantes. Não é um must-see, mas super vale uma maratona. Aliás, vai lá: a série está disponível na Netflix, com segunda temporada já confirmada.