Grace and Frankie continua sendo aquela série que nós poderíamos acompanhar para sempre. É engraçadinha, curta, traz umas mensagens bacanas e ainda coloca Jane Fonda e Lilly Tomlin em ação, para o nosso deleite. Ela também continua trazendo os mesmos problemas desde sua estreia. As piadas, às vezes, são bobas demais, o nonsense não funciona toda hora e há algo formulaico em sua essência. Sabemos que a série precisa dar um pano de fundo para todos os personagens que orbitam em torno de Grace e Frankie. Então, teremos pequenas histórias envolvendo cada um dos filhos, além dos ex-maridos das protagonistas. Essas histórias, infelizmente, não funcionam muito bem, ao passo de que a interação entre as duas mulheres continua sendo uma delícia de se ver. É uma gangorra.
Depois de uma ótima terceira temporada, Grace and Frankie retorna sem muita direção. O início mostra a esperada participação de Lisa Kudrow como Sheree, amiga de Grace (Fonda), que foi morar na casa da empresária após a partida de Frankie (Tomlin) com seu namorado, Jacob (Ernie Hudson), para Santa Fe. Kudrow agrada, como sempre, especialmente interagindo com Jane Fonda, mas não faz acontecer muita coisa na história além de reaproximar as protagonistas, sumindo já no terceiro episódio de uma forma bastante preguiçosa, um erro de Marta Kauffman (criadora de Friends) e Howard J. Morris. A atriz, aliás, parece uma Phoebe um pouco mais velha, algo vindo mais do texto e da direção do que da própria atriz.
Depois desse comecinho, a série demora a engrenar um pouco, mostrando aqui e ali situações bobinhas e dando tempo para outros personagens. Brianna (June Diane Raphael), uma Grace mais jovem, continua sendo a personagem mais engraçada (e que merecia uma série própria), com piadas que sempre funcionam, além de movimentar a trama. Sua ironia e amargor são certeiros e a personagem consegue analisar todos os absurdos da série e, consequentemente, do roteiro. Já os outros filhos não são tão interessantes. Coyote (Ethan Embry) tem uma nova namorada, Bud (Baron Vaugh) é quase pai e enfrenta a antipatia da família com sua noiva e Mallory (Brooklyn Dacker) não tem função nenhuma e o roteiro se esforça para criar situações forçadas para ela.
O interessante da temporada é o esforço para fazer rir sobre algo não tão engraçado.
Já os ex-maridos, Sol (Sam Waterston) e Robert (Martin Sheen), ganham um plot interessante, com uma crise no casamento e na relação sexual dos dois. Após diversas discussões, eles decidem ir a uma terapeuta de casal, que propõe aos dois abrir a relação. Além de ser interessante abordar o assunto com casais gays da terceira idade, ainda deixa a relação mais real, já que os dois personagens nunca apresentavam alguma troca de carícias, mais parecendo amigos empresários do que fato casais.
Grace começa a descer do pedestal. Com joelho machucado, a personagem começa a sentir as consequências do tempo de maneira mais real. Agora com um namorado novo, Grace faz de tudo para fingir estar bem, mas claro, não consegue o tempo todo, o que garante uma das cenas mais lindas de toda a série (você pode ver aqui).
A série brinca com as limitações de Grace o tempo todo – e uma cena dela na loja de ferramentas é, de fato, hilária – mas há sempre uma melancolia no ar. A bengala começa a fazer parte do dia a dia e não há mais aquela confiança de sempre. Depois de empreender após os 70, Grace tem dificuldade em aceitar o seu corpo e algumas realidades.
Já Frankie enfrenta um dilema burocrático: está morta, ao menos nos registros do governo. Com isso, ela perde sua autonomia, já que não pode ter um celular, usar cartões do banco ou tirar dinheiro. Cada vez mais excêntrica, Frankie agora traz preocupação aos filhos.
Tirando as situações inseridas pelos roteiristas para fazer da série, enfim, uma comédia, o interessante da temporada é o esforço para fazer rir sobre algo não tão engraçado. Grace e Frankie parecem precisar de ajuda, ao menos aos olhos dos filhos, e nenhuma das duas percebe. A temporada insere temas mais metafóricos que puxam os personagens para dilemas reflexivos. Frankie, além de “morrer”, apresenta alguns leves sintomas de senilidade, Grace precisa frequentar velórios constantes de velhos amigos e a casa onde as duas moram começa a literalmente ruir. Parece não haver mais espaço para as duas em qualquer lugar.
Grace and Frankie acerta mesmo quando lembra sobre o que é sua história: a vida de duas mulheres septuagenárias enfrentando toda a sociedade para mostrar que, sim, estão vivas e ainda podem muito, embora o corpo já teime em dizer o contrário. Prova disso é que a série nos toca em cheio quando aborda essas situações, mostrando uma profundidade bem maior do que apenas uma comédia engraçadinha. A última cena da temporada, aliás, é de uma melancolia ímpar.
Talvez a série consiga alcançar um equilíbrio daqui para a frente ou talvez seja somente essa a fórmula com que os roteiristas conseguem trabalhar. Grace and Frankie já foi renovada para uma quinta temporada e nós, claro, vamos assistir de qualquer jeito.