Não é preciso ir muito longe para perceber que diferentes gerações têm senso de humor diferentes. O que para alguns é “mimimi”, para outros é intolerância. Onde uns veem cancelamento outros veem censura. O politicamente incorreto é correto?
Hacks, série da HBO Max criada por Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky (todos de Broad City), mostra como a comédia é encarada aos olhos de duas protagonistas de gerações – e personalidades – completamente diferentes.
Deborah Vance, vivida por Jean Smart (atriz veterana da TV e que roubou a cena em Mare of Easttown) é uma comediante pioneira, mas ultrapassada. Seu agente acha que ela precisa de piadas mais modernas e atualizadas. É aí que entra em cena a millennial Ava Daniels (Hannah Einbinder).
Ava é uma escritora novata que também não está vivendo a melhor fase de sua vida após ser “cancelada” por um tweet polêmico. Sem emprego e amigos, ela resolve aceitar o convite para trabalhar com a celebridade cafona e decadente de Vegas.
O segredo de Hacks está na intertextualidade: é uma série de comédia falando de comédia.
Sendo obrigadas a trabalharem juntas, Deborah e Ava percebem que não poderiam ser mais diferentes, além de alimentarem preconceitos geracionais entre si. Ava acha Deborah decadente e mimada, já a boomer acredita que a millennial é mal agradecida e imatura. A dupla vai se entendendo na base do atrito, e a diversão da série está justamente em acompanhar como elas aprendem a se aceitar.
O segredo de Hacks está na intertextualidade: é uma série de comédia falando de comédia. Mas, mais especificamente, de mulheres na comédia. O seriado aborda a dificuldade do sexo feminino em ter a mesma aprovação que os homens e como os erros pesam mais para elas do que para eles.
Além disso, temas relacionados ao #MeToo estão presentes de forma implícita e explícita nos episódios. Vale a pena ressaltar a cena em que Deborah pergunta quanto dinheiro um comediante assediador quer para nunca mais pôr os pés em um palco.
Assim como Deborah e Ava aprendem a se entender, aprendemos a gostar das protagonistas através de suas imperfeições. Afinal, a linha entre amor e ódio é muito tênue.