Quando Homeland estreou, em 2012, foi um presente para fãs de séries de espionagem, especialmente para os órfãos de 24 Horas. Para quem não conhece, a história apresentava Carrie Mathison (Claire Danes), uma agente da CIA, que sofre de bipolaridade, e está convencida de que o oficial Nicholas Brody (Damian Lewis), recém-resgatado no Afeganistão, está conectado a um plano dos terroristas para um novo ataque aos EUA, dez anos após o 11 de Setembro. Após a belíssima primeira temporada, a série ganhou importantes prêmios e se tornou a produção mais elogiada daquele ano.
Um ano depois, a segunda temporada ainda conseguiu segurar a história do soldado americano que virava a casaca, mas logo percebemos que esse plot não poderia se sustentar por muito tempo. A romantização entre Brody e Carrie se revelou um problema, já que a série começava a fugir de seu foco principal. Ainda assim, o terceiro ano insistiu no personagem de Brody, o que acabou sendo a pior temporada da série e fazendo a audiência despencar. Em meio a tantos erros, o acerto veio no final. Com uma corajosa decisão, porém necessária, os roteiristas decidiram matar Brody e começar tudo do zero. Mas qual seria o futuro de Homeland se a sua premissa inicial não existia mais?
Meses após a morte de Brody, Carrie, que estava grávida na terceira temporada, já deu à luz, mas se mantém afastada da filha trabalhando em uma perigosa base da CIA no Oriente Médio, em Islamabad. A presença do bebê na vida de Carrie é a ponta para não perdermos Brody da história, ao menos fisicamente. Ao precisar voltar para os EUA por alguns dias, Carrie também precisa lidar com a filha e a lembrança do homem que ela viu ser enforcado em praça pública.
Ainda que Homeland seja assumidamente americana, também mostra bombardeios americanos que matam inocentes no Paquistão e negociações com terroristas, decisões corajosas para uma produção norte-americana.
Logo fomos apresentados a dois novos personagens, Sandy (Corey Stoll, de House of Cards) e Aayan (Suraj Sharma, de As Aventuras de Pi). Sandy é o chefe de divisão do Paquistão, que é assassinado já no primeiro episódio, fazendo Carrie assumir o cargo e descobrir que Sandy talvez estivesse vazando informações americanas para paquistaneses. Tudo piora quando a última informação de Sandy levou a CIA a bombardear o casamento de um membro da família do terrorista Haqqani (Nunan Acar), cujo único sobrevivente foi o jovem Aaayan, sobrinho de Haqqani. Não demora muito para uma onda de ódio contra os americanos surgir em toda parte do Paquistão.
Ao descobrir que Haqqani não morreu no bombardeio e que o sobrinho sabia de seu paradeiro, Carrie decide seduzir o menino para descobrir onde o terrorista está. Toda essa parte, embora apresente uma Carrie fria e sem remorso, não convence e mostra que a série sempre caminha na irregularidade. Quase como se estivesse repetindo os erros dos dois últimos anos, Carrie começa a se envolver emocionalmente com o garoto. Ainda, tivemos Carrie, novamente, sofrendo uma crise com sua doença, que embora tenha sido colocada de forma interessante, se mostra como uma repetição de fórmulas incansavelmente usadas nos três anos anteriores. Porém, numa sacada brilhante dos roteiristas, a série ressurge com uma sucessão de episódios extremamente tensos.
“From A to B and Back Again”, que mostra o sequestro do ex-chefe da CIA e mentor de Carrie, Saul (Mandy Parintink), deu espaço para a construção de uma das narrativas mais nervosas que a série já apresentou, abrindo uma discussão pertinente sobre política e pátria.
A grande sacada do quarto ano aparece em toda estratégia entre governo americano e governo paquistanês. Enquanto o primeiro luta para justificar seus atos, o segundo mostra ao público que apenas responde à barbárie americana. Ainda que seja difícil torcer para os paquistaneses, a temporada faz questão de mostrar os dois lados. E se a audiência reclamava de ação, Homeland entregou episódios de deixar qualquer um gritando com a tela. Desde a troca de prisioneiros para resgatar Saul até a invasão na embaixada, as cenas foram tensas, chocantes e extremamente reais. Ainda que Homeland seja assumidamente americana, também mostra bombardeios americanos que matam inocentes no Paquistão e negociações com terroristas, decisões corajosas para uma produção norte-americana.
Parecia que o melhor de Homeland estava de volta, mas a irregularidade aparece bem no final. A história desse ano poderia ter acabado no penúltimo episódio, mas a série entrega uma season finale completamente apática e com uma história que parece ignorar a trama central, deixando a audiência sem vontade alguma de acompanhar a quinta temporada. Com elementos vazios, vemos Carrie discutindo com sua mãe (que nem sequer havia sido mencionada nos quatro anos da série), tentando superar a morte do pai e buscando sua força materna para amar a filha. Tudo isso, claro, é importante para a pronfundidade da personagem, mas não funciona como conclusão de uma temporada extremamente tensa. Reservando um tempo para encerrar a trama do terrorista, a história fica perdida em meio aos complexos de Carrie.
Porém, decidir se uma temporada foi boa ou ruim pelo seu final é um pouco injusto. Dividida em fases, o quarto ano de Homeland ainda se apresenta irregular, mas mostra uma redenção em relação a sua terceira temporada. Sai a necessidade de urgência do roteiro para dar lugar a uma história mais política e estratégica, não sem deixar a tensão de lado. Talvez o que Homeland precise é entender o equilíbrio entre dramas pessoais e a energia necessária que uma série sobre terrorismo necessita, como tão bem fazia 24 Horas. De qualquer forma, da incerteza de um recomeço que pairava sobre a história, essa temporada conseguiu superar as expectativas, mostrando o que Homeland tem de melhor e pior.