Ozark, séria boa, mas nada badalada da Netflix, fez sua estreia no ano passado com uma primeira temporada tensa. Para muitos, lembrava Breaking Bad. As comparações tanto a ajudaram quanto a prejudicaram, mas fato é que o primeiro ano trazia uma história cheia de reviravoltas que deixaram o público na ponta do sofá. Com tanta movimentação, era de se esperar que a segunda temporada diminuísse um pouco o ritmo. Entretanto, embora entregue um roteiro até mesmo mais consistente do que sua estreia, peca pela falta de ritmo. Não é que precisávamos de ação o tempo todo, mas há uma sensação de que tudo poderia ter sido resolvido mais rapidamente.
No fim da temporada passada, Marty (Jason Bateman) e Wendy (Laura Linney) propõe a construção de um cassino para resolver os problemas de um cartel mexicano que os mantém reféns. O cassino, claro, é só uma fachada, pois será construído nas terras de Jacob (Peter Mullan) e Darlene (Lisa Emery), produtores de heroína que distribuirão a droga para o cartel e servirá como local para lavagem de dinheiro. A temporada basicamente mostra a luta de Marty e Wendy para que o cassino seja construído, a fim de cumprir a promessa que fizeram ao cartel para, assim, irem embora de Ozark com seus dois filhos, Jonah (Skylar Gaertner) e Charlotte (Sofia Hublitz), adolescentes cada vez mais envolvidos na corrupção dos pais. No meio de tudo isso, o FBI continua na cola de Marty.
A quebra no ritmo, notavelmente proposital, serve para criar um clima ainda mais sombrio. A cor cinza predomina em todos os episódios e esse aspecto de sujeira dá ao público uma experiência interessante. O casal protagonista continua segurando muito bem a tensão de estar sempre na beirada do precipício. Alguns personagens também ganham uma atenção interessante, especialmente Ruth (Julia Garner), que consegue dosar muito bem a dureza de uma adulta vivendo em um ambiente completamente doente e a insegurança de uma jovem que, no fim, tem esperanças.Outro destaque é Helen (Janet McTeer), advogada do cartel e a responsável por resolver todos os problemas. Ainda que seja apresentada de forma um pouco unidimensional, Helen consegue ter uma complexidade interessante, especialmente se pensarmos que esse tipo de personagem, geralmente, é interpretada por homens.
Mesmo com todos os acertos, a temporada é calma demais.
A questão mais interessante da temporada fica por conta de Wendy, que no decorrer dos dez episódios vai assumindo o protagonismo da série e se transformando numa pessoa um tanto quanto assustadora, num belíssimo trabalho de Laura Linney. Tanto Linney quando Bateman trazem atuações sutis e delicadas, o que transmite naturalidade para uma história bastante absurda (porém não inverossímil). O roteiristas conseguem construir muito bem a sensação de peso daquele casal e como eles precisam fazer de tudo para manter funcionando a rede de corrupção com que eles se amarraram no primeiro ano.
Mesmo com todos os acertos, porém, a temporada é calma e longa demais. Se no primeiro ano tudo pegava fogo e os personagens carregavam uma imprudência que movimentava a história, na segunda temporada tudo é morno. Marty e Wendy vivem em constante perigo, mas fazem tudo com uma aparente tranquilidade e normalidade. Até mesmo o episódio em que Wendy corre um sério perigo de vida é enfrentado de forma um tanto quanto serena demais, com resoluções violentas e ao mesmo tempo pacíficas.
No final, a sensação é de que aconteceram muitas coisas e ao mesmo tempo faltaram acontecimentos. E se ano passado os filhos do casal quebravam aquele velho clichê de jovens adolescentes que só servem para atrapalhar o desenvolvimento dos personagens, neste ano eles fazem justamente isso, especialmente Charlotte.
Ao mesmo tempo, Ozark continua sendo uma série interessante, trilhando um caminho promissor, caso a Netflix a renove para um terceiro ano. Com um desfecho que dá a entender que o casal vai mergulhar ainda mais na lama, a série se aproxima ainda mais das qualidades de Breaking Bad, quando os personagens deixam de parecer vítimas para se transformarem em pessoas perigosas. Entretanto, se lá nós torcíamos por Walter White, em Ozark fica um pouco mais difícil torcer por aquele casal corrupto, o que pode ser um problema para uma série de anti-heróis.