Para quem entende um pouco do mundo dos grandes conglomerados de mídia e jornalismo televisivo, sabe que intrigas, estresse e relações de poder fazem parte dessa louca rotina. Em The Morning Show, série original Apple TV+, essas tensões do mundo do jornalismo são latentes e se combinam com temas atuais como polarização política, representatividade, feminismo e cultura do cancelamento.
A série foi criada por Jay Carson e o fato dela ser tão conectada com as notícias atuais não é coincidência. Além do fator óbvio de “The Morning Show” ser um programa matutino de televisão no seriado, Carson trabalhou com política nacional e internacional, sendo secretário de imprensa de Hillary Clinton em 2008 e vice-prefeito de Los Angeles (2009–2010) antes de entrar na carreira cinematográfica. Seu primeiro trabalho na área foi como consultor político para a série da Netflix House of Cards.
Carson chegou com os dois pés na porta do streaming ao criar The Morning Show e contar os bastidores da televisão pelo olhar de quem faz notícia.
Carson chegou com os dois pés na porta do streaming ao criar The Morning Show e contar os bastidores da televisão pelo olhar de quem faz notícia. Com um elenco de peso, a história tem como foco inicial Alex Levy (Jennifer Aniston), âncora do “The Morning Show” (TMS), um popular programa de notícias e recorde de audiência. Depois que seu parceiro de 15 anos, Mitch Kessler (Steve Carell), é demitido em meio a um escândalo de má conduta sexual, Alex luta para manter seu emprego como principal âncora de notícias. Em meio ao turbilhão de acontecimentos, Bradley Jackson (Reese Witherspoon), uma repórter novata, é levada, por uma série de ações impulsivas, a dividir o espaço de co-apresentadora com Alex.
A primeira temporada, que foi ao ar em 2019, bateu de frente com os temas em voga na época, em que os escândalos sexuais de celebridades e o movimento #MeToo dominavam o cenário norte-americano. Quando a segunda temporada foi anunciada, parecia difícil superar o feito realizado tanto pelos atores como pelo roteiro, os quais foram impecáveis. Porém, a segunda parte do drama veio para abordar um elemento mais atual e relevante do que nunca: a pandemia do coronavírus.
A construção de personagens em The Morning Show é feita sob medida justamente para que nada fique em excesso ou falta. A série parte da premissa de que ninguém é totalmente bom ou ruim, que o mundo é muito mais cinza do que preto no branco. Mitch, que é acusado de abuso sexual por uma funcionária, é um personagem que mexe com os sentimentos, conseguindo inclusive despertar uma (muito) incomoda empatia. Já Alex é a “boa samaritana“ que quer estar do lado certo, porém suas atitudes provam muitas vezes o contrário.
Com um texto extremamente afiado, personagens complexos, conflitos sinuosos e uma trilha sonora impecável, The Morning Show promete muito e entrega muito mais. E, tanto para os jornalistas como para profissionais de outras áreas, é um prato cheio do mais puro entretenimento de qualidade.