Não é de hoje que se tornou comum dizer que a “instituição” casamento está falida. De certa maneira, até que faz muito sentido. E isso vai ser parte da trama abordada em Togetherness, série da HBO que retorna neste domingo para sua segunda temporada.
Togetherness acompanha a história de Brett (Mark Duplass) e Michelle (Melanie Lynskey, a eterna Rose de Two and a Half Men), um casal de meia idade e com dois filhos que passam a viver uma crise em seu casamento. Brett trabalha como engenheiro e designer de som em uma produtora de áudio, enquanto Michelle é dona de casa. Ambos não se sentem muito satisfeitos em seus papéis, carregando uma eterna sensação de fracasso, como se tivessem deixado seus bons anos de vida para trás levando esse matrimônio adiante. E o pior: tendo deixado de viver seus sonhos.
Essa sensação constante de frustração começa a interferir no relacionamento dos dois, desde coisas simples, como a definição do lazer aos finais de semana, até o sexo, que passa a ser um evento com data e hora marcada, e no qual ambos parecem representar personagens que querem oferecer prazer um ao outro, porém, como uma forma de encerrar logo o ato. É neste momento em que surge David, personagem de John Ortiz, de O Lado Bom da Vida. Michelle o conhece na escola de seus filhos durante um discurso dele sobre educação e planos para a melhoria da comunidade. O personagem surge natural e delicadamente na trama, interessando-se verdadeiramente por Michelle, acendendo nela uma chama até então apagada. Ainda mais, a presença dele parece evidenciar tudo que há de errado em seu casamento, como se ele fosse uma espécie de Messias enviado para alertá-la de que há algo errado em sua vida.
A partir do momento em que ambos passam a viver sob o teto de Brett e Michelle, esse quadrilátero impulsiona o desgaste da relação de todos, uns com os outros.
Para complicar um pouco a situação, entram em cena Tina (Amanda Peet, de 2012), irmã de Michelle, e Alex (Steve Zissis, de Ela), melhor amigo de Brett. Tina leva uma vida totalmente o extremo oposto da irmã: não estabelece relacionamentos duradouros, está quase sempre sem grana e vive se metendo em roubadas de todos os tipos. Já Alex leva a vida como um aspirante a ator, acumulando papeis esdrúxulos e fracassos amorosos. Ele e Tina guiam bem a trama paralela, mantendo uma paixonite crônica um pelo outro, enquanto buscam, tal qual o casal de protagonistas, viver seus sonhos. A partir do momento em que ambos passam a viver sob o teto de Brett e Michelle, esse quadrilátero impulsiona o desgaste da relação de todos, uns com os outros. É importante frisar que, em boa parte da primeira temporada – composta por 8 episódios -, eles são os responsáveis por dar vida à série, parte disso pelos personagens de Duplass e Lynskey demorarem a ser aprofundados.
Criado por Mark Duplass, Jay Duplass (de Transparent) e Steve Zissis, Togetherness é um bom exemplo de como clichês podem funcionar, desde que bem usados. Caminhando entre o humor e o drama, o trio de criadores consegue manter um equilíbrio com diálogos tocantes (daqueles que fazem qualquer tipo de pessoa se emocionar), humor nonsense e inteligente e grandes atuações, especialmente de Melanie Lynskey. Muito marcada por seu papel na sitcom Two and a Half Men, ela dá show ao criar um dona de casa sufocada pelo casamento, pela vida pacata e monótona. Juntando a isso a fusão entre delicadeza e crueldade do roteiro e a boa direção dos irmãos Duplass e temos um dos ótimos shows da mid season norte-americana.