Por Bruna Bottin*, especial para Escotilha
Humor é uma coisa complicada. Primeiro porque existe uma linha tênue sobre o que pode ou não ser motivo de piada. Segundo porque é preciso ter timing. Timing é tudo no humor. Você não vai rir agora de uma piada sobre o vestido preto/azul/branco/dourado, não importa o quão genial ela for. Terceiro porque é difícil ter liberdade para ser engraçado na televisão sem ser óbvio. Mas as séries cômicas de maior sucesso seguem limitadas, como se comédia obrigatoriamente precise ser simples em nível de roteiro e produção.
Veja The Big Bang Theory, série que segue reciclando situações cômicas do mundo nerd, mas que convenhamos, não é mais engraçada de verdade há muito tempo. Até quando você vai rir do Sheldon (Jim Parsons) falando Bazinga? Ou Two and a Half Men e sua extensa jornada composta por 12 temporadas, apesar dos escândalos com o protagonista Charlie Sheen, que foi demitido e substituído pelo fraco Ashton Kutcher. Uma comédia que, inclusive, fazia muita ofensa camuflada como piada. Se o roteiro convencional de ambas não fosse motivo suficiente para você esquecer dessas séries, vale lembrar que ambas seguem a linha tradicional (pra não dizer ultrapassada) de produção: sitcoms multi-camera filmadas com a presença de público. Mas acreditem, existe vida além das séries criadas pelo limitado Chuck Lorre.
Infelizmente, comédias com um texto mais inteligente e articulado, não são prestigiadas. Community é um excelente exemplo. Lutou para viver por cinco anos no canal norte-americano NBC. Chegaram a demitir o criador Dan Harmon, que passou longe do desastre que foi a quarta temporada, e recontratá-lo depois apenas para ser cancelada em seguida. Então o Yahoo! viu aí uma oportunidade e resgatou a cultuada produção para o sexto ano (e possivelmente um filme no futuro). O resultado foi incrível, principalmente porque a plataforma online oferece toda a liberdade que um roteirista precisa para criar situações cômicas fora do lugar comum.
Até quando você vai rir do Sheldon falando Bazinga? Ou Two and a Half Men e sua extensa jornada composta por 12 temporadas, apesar dos escândalos com o protagonista Charlie Sheen, que foi demitido e substituído pelo fraco Ashton Kutcher.
O mesmo deve acontecer com The Mindy Project. Após três temporadas na corda bomba da audiência na Fox, a comédia criada e estrelada pela engraçadíssima Mindy Kaling está de malas prontas para o Hulu – outro serviço de streaming. Podemos nos preparar para acompanhar uma nova fase com humor mais afiado.
O que me lembra Unbreakable Kimmy Schmidt. José Picelli analisou a série e constatou a mesma coisa: muito do sucesso da comédia criada por Tina Fey é graças ao seu lar na Netflix. Porém, apesar dessas comédias mais irreverentes, em sua maioria, estarem migrando para o online ou nascendo por lá mesmo, o processo contrário também existe.
Broad City é uma das produções cômicas mais geniais da atualidade. Sua trajetória iniciou uns anos atrás como websérie – vídeos curtos disponibilizados no YouTube. Amy Poehler (Parks & Recreation) enxergou o potencial em Ilana Glazer e Abbi Jacobson, criadoras e protagonistas da comédia, para desenvolverem esse projeto no Comedy Central, canal pago focado em programas de humor. Funcionou tão bem, que a série já está renovada para a terceira temporada, com previsão de estreia para 2016.
E o que diferencia Broad City, Unbreakable Kimmy Schmidt, Community e The Mindy Project de comédias como The Big Bang Theory e a já cancelada Two and a Half Men? Além de estarem atualizadas na produção no formato single camera, todas possuem a capacidade de não duvidar da inteligência de seu público e a desenvoltura para abordar temas tabus com muito humor, mas sem perder o respeito.
* Bruna Bottin é estudante de Relações Públicas na UniRitter, mesmo local onde trabalha como organizadora de eventos acadêmicos, comerciais e corporativos.