Marcado para junho, o Olhar de Cinema divulgou nesta segunda-feira o nome do cineasta David Cronenberg para a mostra Olhar Retrospectivo, responsável por refletir a trajetória de realizadores através de suas produções.
Um dos cineastas de horror mais influentes de todos os tempos, David Cronenberg é conhecido por seu trabalho inovador, marcado por representações ao mesmo tempo grotescas e impressionantes de transformações corporais, que refletem os estados psicológicos internos de seus personagens, além dos efeitos das transformações tecnológicas e do avanço do chamado mundo moderno.
O cineasta celebrou 80 anos no último dia 15 de março. Canadense, Cronenberg dirigiu 47 trabalhos nas quase seis décadas de atuação, dos quais sete serão exibidos no festival. A produção do Olhar de Cinema optou por fazer um recorte nos primeiros 25 anos de carreira do diretor.
Serão seis longas-metragens, além do curta Ralo Acima, de 1967. Foram selecionados Calafrios (1975), Videodrome (1983), A Mosca (1986), Gêmeos: Mórbida Semelhança (1988), Crash: Estranhos Prazeres (1996) e eXistenZ (1999).
David Cronenberg: um olhar particular
Seu olhar provocador/perturbador com toques de humor permitirão os espectadores que ainda não têm familiaridade com sua filmografia ter contato com sua relação particular com o terror.
Apesar de ter crescido com o objetivo de se tornar um escritor (e até tenha publicado um livro em 2014, Consumidos, editado no Brasil pela Alfaguara), Cronenberg parecia destinado mesmo ao cinema.
Desde a adolescência, o futuro diretor se dedicou a aprimorar a escrita, criando um estilo fortemente influenciado por Ray Bradbury, Vladimir Nabokov e, especialmente, William S. Burroughs.
Não à toa, em 1991, levou a cabo uma produção baseada em Almoço Nu, obra do escritor norte-americano considerada ponto-chave na redefinição da literatura dos Estados Unidos, por tal um dos mais importantes livros do século XX.
Cronenberg dá seus primeiros passos inspirado pela cena cinematográfica underground de Nova York, mas sua maneira de fazer cinema não foi bem vista em sua terra natal. Em sua arte, ele nunca enxergou as mutilações como algo a ser consertado, mas como uma etapa de transformações pessoais.
Em entrevista para a cineasta Bette Gordon, em 1989, na Bomb Magazine, publicação voltada à arte, o diretor comentou seu interesse sobre a transformação humana. “Quando olho para uma pessoa, vejo esse turbilhão de caos orgânico, químico e eletrônico; volatilidade e instabilidade; a capacidade de mudar, transformar e transmutar”
Seu olhar provocador/perturbador com toques de humor, parte também de seu cinema, permitirão os espectadores que ainda não têm familiaridade com sua filmografia ter contato com sua relação particular com o terror. Primordialmente “sua relação com aquelas coisas […] com as quais muitas outras lidam, como a morte, as doenças e os términos”, como o próprio Cronenberg contaria a Gordon. “Ele te permite fazer coisas que talvez você não consiga em outro gênero. […] Ele permite que você se familiarize com o âmago da questão e, ao mesmo tempo, oferece uma pequena proteção, já que é fantasia”. Quase uma descrição de Cronenberg por Cronenberg.
Olhar de Cinema vem aí
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A 12º edição do Olhar de Cinema já tem data marcada para acontecer. Mais uma vez em modelo híbrido, com sessões presenciais em Curitiba além de exibições online, o festival começa no próximo dia 14 de junho, se estendendo até o dia 22.
Entre as novidades para 2023, a mostra competitiva do Olhar de Cinema agora é dividida em filmes nacionais e internacionais. Essa adequação expande o número de premiações para os longas-metragens brasileiros, que contam, além de melhor filme, com vencedores em direção, roteiro, atuação, direção de arte, fotografia, som e montagem.
Ao mesmo tempo, as tradicionais mostras Outros Olhares e Olhares Brasil foram extintas pela produção do festival. Em compensação a Pequenos Olhares, que retornou em 2022, segue na programação, que deve ser divulgada por completo no próximo dia 10.
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