Um vento fresco e carregado de histórias ancestrais sopra sobre o cenário cultural brasileiro com a chegada da aguardada Mostra de Cinemas Africanos. Do dia 5 a 18 de setembro, duas das maiores metrópoles do país, São Paulo e Salvador, tornam-se o epicentro de uma jornada cinematográfica única, onde 13 longas e 16 curtas de 12 países do continente africano ganham vida nas telas do CineSesc e Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, na capital paulista, e Glauber Rocha e Saladearte do Museu, na capital baiana.
Mais do que apenas exibições, o festival promete um profundo mergulho na diversidade e riqueza das narrativas africanas, alinhando debates, masterclasses e intercâmbios culturais. Com 13 edições, a Mostra, surgida na Bahia em 2018, já exibiu mais de 180 filmes e projetou títulos de cerca de 30 países africanos. Também foi responsável pelo lançamento de seis publicações.
Uma passagem secreta para o cinema de Senegal
Com riqueza e diversidade permeando cada quadro, a Mostra de Cinemas Africanos traz para o público brasileiro uma paleta de expressões culturais que varia do inspirador ao provocante. Com uma seleção meticulosa, a mostra lança um olhar especial sobre o cinema do Senegal, honrando tanto a rica herança cinematográfica quanto as vozes emergentes. Alassane Diago e Moussa Sène Absa, duas forças cinematográficas de diferentes gerações, compartilharão suas visões únicas com o público.
O jovem Diago presenteia o público com sua “trilogia” ousada – As Lágrimas da Emigração (2010), Conhecendo meu Pai (2018) e O Rio Não É uma Fronteira (2022) –, explorando emigração e conflitos familiares, uma narrativa que ressoa além das fronteiras do Senegal. Enquanto isso, Absa, veterano na cena, nos leva a uma jornada emocional por dramas e conflitos familiares através de sua trilogia das mulheres senegalesas: Tableau Ferraille (1997), Madame Brouette (2002) e Xalé – As Feridas da Infância (2022).
Uma jornada além das telas
O impacto da Mostra de Cinemas Africanos vai além das exibições, como o diretor do longa inédito MAMI WATA, C.J. Obasi, discute. Em entrevista ao jornalista Stephen Saito, Obasi explicou como sentiu necessidade de mergulhar em questões pessoais para criar personagens autênticos, explorando temas de gênero, espiritualidade e religião. “Sempre fui fascinado pela mitologia e folclore que envolve Mami Wata. Sempre foi um assunto de mistério e até tabu devido à ocidentalização e à religião – o cristianismo e o islamismo. Alguns desses aspectos culturais de nossa sociedade foram demonizados, mas sempre tive uma fascinação por isso. E a maneira de fazer o filme veio até mim literalmente como uma visão e entrei em transe.”
O impacto da Mostra de Cinemas Africanos vai além das exibições.
Não à toa, as atividades paralelas, que incluem debates e masterclasses, oferecem uma plataforma para encontros enriquecedores entre cineastas, acadêmicos e amantes do cinema. Através das imagens e das histórias cuidadosamente selecionadas, ela convida o público a cruzar fronteiras e explorar terras desconhecidas. A interseção entre Brasil e África, o encontro de gerações e a celebração da rica diversidade africana são entrelaçados de maneira magistral nesta jornada cinematográfica. Não é apenas um festival; é uma ponte cultural que conecta territórios distantes.
Uma viagem pelos curtas-metragens: teias de narrativas
A mostra não se limita apenas aos longas. Uma seleção vibrante de curtas-metragens, incluindo documentários e dramas, evoca uma miríade de emoções e perspectivas. Parcerias com festivais e cineastas africanos resultaram em uma fusão de vozes e olhares que oferecem um microcosmo das experiências africanas modernas.
O curador da seleção de longas, Dika Ofoma, cineasta e crítico nigeriano, compartilha a intenção por trás das escolhas. Ele destaca que a mostra vai além das seleções convencionais de festivais e busca trazer ao público brasileiro uma visão autêntica do cinema africano, um panorama que muitas vezes é negligenciado. “A nossa seleção deste ano nos deu a oportunidade de pensar em outros”. Ana Camila Esteves, co-curadora, destaca a importância de apresentar títulos que frequentemente não chegam ao Brasil, enriquecendo a oferta cultural do país. “Neste sentido, ficamos felizes de manter a nossa linha curatorial”, conclui.
SERVIÇO | Mostra de Cinemas Africanos
São Paulo
Onde: CineSesc e Centro de Pesquisa e Formação do Sesc;
Quando: de 5 a 13 de setembro;
Quanto: R$ 24 (inteira), R$ 12 (meia-entrada) e R$ 8 (credencial plena).
Salvador
Onde: Cine Glauber Rocha e Saladearte Cinema do Museu;
Quando: de 13 a 18 de setembro;
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada).
Toda a programação de São Paulo e Salvador e mais informações, incluindo as atividades paralelas, estão disponíveis no site oficial do festival: mostradecinemasafricanos.com.
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