O produtor Anderson Simão gesticulava nervosamente para que o cordão de isolamento se mantivesse de pé. A Boca Maldita, um dos principais pontos turísticos do Centro de Curitiba, estava cheia de gente. Impedir a passagem de pessoas num espaço de pouco mais de oito metros quadrados estava particularmente difícil naquela noite de sábado, dia 16 de dezembro. Isso porque o set de filmagem de Verde Oliva havia sido instalado entre os 30 metros que separam a feira de Natal da Praça Osório e uma Roda Gigante, levantada especialmente para comemorar o fim do ano na cidade.
O movimento era ainda maior porque a produção trabalhava durante a apresentação da tradicional cantata natalina do Palácio Avenida, que reunia cerca de 40 mil pessoas a cerca de 100 metros dali. “Nós queríamos pegar o movimento, que é bem tradicional na cidade. Aproveitar toda iluminação especial”, explicava Simão, enquanto segurava o cordão com uma mão e balançava os braços com a outra, pedindo para que os colegas prestassem atenção no público, que se acumulava no entorno das filmagens.
Na cena, o ator Jean Guilherme, também conhecido como Mydas, tenta correr para salvar uma amiga, em perigo depois que os personagens se envolvem em uma trama de espionagem militar e desinformação no Brasil contemporâneo. O enredo é bastante inspirado no longa-metragem Um Tiro na Noite (1981), de Brian de Palma. No original – que já era influenciado pelo clássico Blow-Up – Depois Daquele Beijo (1967) de Michelangelo Antonioni -, John Travolta vive um técnico de som que grava acidentalmente o assassinato de um importante político dos Estados Unidos.
“A história fala sobre essa falsa ideia de que os militares saíram de cena na política nacional. É uma camuflagem, pois eles sempre estiveram presentes. Só saíram dos quarteis nos últimos anos.”
Na versão curitibana, João (Mydas) é um cinegrafista contratado por Golbery (Gilda Nomacce) e Ernesto (Felipe Torres) para filmar com um drone imagens comprometedoras de um famoso político. Durante o trabalho, ele acaba registrando também um suposto assassinato e se envolve em um plano de distribuição de fake news para que o exército brasileiro continue relevante no noticiário.
“Meu personagem tem um forte senso de justiça e é um cara que se vê perdido em um plano bastante complexo”, explicou Mydas à Escotilha. Este é o primeiro longa-metragem do ator, que já trabalhou em diversos curtas para a produtora O Quadro, responsável pela produção de Verde Oliva.
A direção do filme é de Wellington Sari, de Bia Mais Um (2021). O cineasta também assina o roteiro e não esconde o interesse em criar um suspense político. “A história fala sobre essa falsa ideia de que os militares saíram de cena na política nacional. É uma camuflagem, pois eles sempre estiveram presentes. Só saíram dos quarteis nos últimos anos”, explicou à reportagem.
Sari diz que, embora o argumento já estivesse pronto, a primeira página do roteiro foi escrita em 9 de janeiro de 2023, um dia depois da tentativa de golpe em Brasília. “A ideia principal do filme é que ele possa representar o que vivemos. O cinema de gênero ajuda nisso. Parte do thriller vem do fato de que esses personagens [que contratam o João] serem parte do governo”, diz.
Verde Oliva é um filme que se aproveita muito dos espaços de Curitiba. Há cenas gravadas no Teatro Paiol, no Museu Oscar Niemeyer e na Galeria Tijucas. “Nossa intenção também era a de que o filme refletisse a cidade, pensando em como as pessoas se relacionam com ela”, explica Sari. Foi assim que a equipe foi parar no centro nervoso da capital paranaense naquela noite de sábado. “Mas deu tudo certo no fim das contas”, comentou o diretor.
A distribuição do suspense político será da Lança Filmes, de Porto Alegre. As filmagens ocorreram entre novembro e dezembro. A previsão de estreia é no segundo semestre de 2024. O elenco ainda tem Nathalia Garcia e Marrara Mara.
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