Não é de hoje que a televisão se aproveita de fórmulas que deram certo para produzir conteúdos parecidos, na esperança de fisgar um público fiel. Levando a risca toda a teoria da indústria cultural, os grandes executivos parecem ter a certeza de que basta produzir um produto genérico para que a audiência migre automaticamente. Depois do monstruoso sucesso de Game of Thrones, não é difícil encontrar séries com a receita básica de poder + disputas + clima medieval + fantasia + ação + muito sangue, geralmente cópias preguiçosas e cafonas. É nessa linha que The Bastard Executioner se encontra. A nova série do criador de Sons of Anarchy e The Shield, Kurt Sutter, vinha com expectativas altas, mas apresenta uma das estreias mais frustrantes da nova temporada.
A série se passa no século XIV, após a morte do rei Edward I da Inglaterra, quando o caos entre ingleses e galeses se instaura, com os galeses exigindo sua independência. A história acompanha a vida de Wilkin Brattle (Lee Jones), um soldado da corte do rei Edward III. Devastado pelos efeitos da guerra, ele decide largar as armas e buscar um outro estilo de vida, juntamente com a esposa, que espera o primeiro filho do casal. Mas a tensão entre ingleses e galeses acaba gerando uma carnificina na aldeia onde Wilkin vivia. Jurando vingança, ele volta a praticar atos violentos e a trabalhar como carrasco justamente para aqueles que mataram seu povo.
Enquanto os personagens questionam o motivo de tanta violência, o público é contemplado com cenas feitas exclusivamente para chocar, seguindo à risca a cartilha Game of Thrones: uma criança tem a garganta cortada sem dó, uma mulher grávida é esfaqueada na barriga e uma espada transpassa um soldado pelo ânus. Pensando de uma forma mais racional, é bem provável que os horrores da guerra medieval fossem iguais ou piores. O problema é que todas essas cenas têm a única e exclusiva função de entreter, alimentando o sadismo do público.
Em tempos em que a televisão entrega, cada vez mais, séries com uma narrativa complexa, The Bastard Executioner não apenas regride no tempo em seu enredo, mas regride na forma de se fazer TV.
Obviamente, ninguém esperava leveza do criador de Sons of Anarchy, série conhecida por cenas bem violentas. Mas se o roteiro de Sons era louvável, Bastard parece ter sido escrita por um time de roteiristas que não sabe para onde a série vai. Tentando parecer Game of Thrones e Vikings , falta cuidado na construção dos personagens, dos diálogos, da caracterização e do ritmo. Temos muita pancadaria, espadas, sangue e uma intriga política bastante mal contada (a série começa com um letreiro extremamente brega), tudo permeado por um toque de magia protagonizado por uma espécie de Melisandre mais velha e com um sotaque forçado, vivida por Katey Sagal..
Os roteiristas tentam criar diálogos marcantes, mas entregam ao público um texto expositivo, didático. Os personagens são unidimensionais e fracos, guiados por uma intuição divina e por frases sábias de efeito. O protagonista é macho, viril, um herói que não existe mais. O pouco de complexidade que tentam dar a ele acaba se diluindo em uma atuação quase robótica de Lee Jones.
Em tempos em que a televisão exibe, cada vez mais, séries com narrativas complexas, The Bastard Executioner não apenas regride no tempo em seu enredo, mas regride na forma de se fazer TV. É surpreendente perceber que a mesma mente que criou Sons of Anarchy possa ter criado uma história tão ordinária, um tipo de televisão antiga onde lutas, espadas, homens fortes e mulheres frágeis parecem suficientes para fisgar uma audiência pífia. Com 10 episódios encomendados para a primeira temporada, The Bastard Executioner oferece ao seu público, até agora, um belo e eficiente exercício de masoquismo, tanto pelas cenas violentas quanto por um roteiro sofrível.