• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Literatura

‘Jantar Secreto’, de Raphael Montes, é thriller canibal em um Brasil faminto e hiperconectado

Raphael Montes atualiza, em ‘Jantar Secreto’, o romance policial brasileiro com uma trama de horror moral, crítica social e referências à cultura digital.

porPaulo Camargo
31 de julho de 2025
em Literatura
A A
Autor se tornou um fenômeno literário. Imagem: Thais Alvarenga / Divulgação.

Autor se tornou um fenômeno literário. Imagem: Thais Alvarenga / Divulgação.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Com Jantar Secreto (2016), Raphael Montes entrega um de seus romances mais ousados e desconcertantes, fundindo thriller psicológico, horror gráfico e crítica social em um enredo que provoca tanto náusea quanto reflexão. O livro tornou-se um best-seller, ultrapassando 100 mil exemplares vendidos, e teve seus direitos adquiridos para adaptação cinematográfica. Mas seu impacto vai além do mercado editorial: é um retrato brutal — e muito atual — de um Brasil voraz, desigual e digitalizado.

A história gira em torno de quatro amigos de Pingo d’Água, cidade fictícia do interior do Paraná, que se mudam para o Rio de Janeiro em busca de ascensão profissional e pessoal. Dante, o narrador, é formado em Administração e se vê, como os demais, em um beco sem saída financeiro e emocional. Quando um dos amigos propõe um “jantar secreto” com carne humana — inicialmente como brincadeira — e o evento atrai atenção de clientes ricos e curiosos, a ideia se transforma em um negócio clandestino e sangrento.

A grande força do romance está não apenas na premissa macabra, mas na forma como Raphael Montes ancora o horror na cultura digital contemporânea. Ao longo da narrativa, o autor insere memes, prints de WhatsApp, postagens em fóruns e e-mails corporativos como parte orgânica da estrutura narrativa. Esses recursos não funcionam como enfeites ou tentativas de modernizar o texto, mas como elementos que aumentam a verossimilhança e dão à história uma textura reconhecível, que aproxima o leitor da lógica hiperconectada do presente.

A grande força do romance está não apenas na premissa macabra, mas na forma como Raphael Montes ancora o horror na cultura digital contemporânea.

A viralização do jantar canibal, por exemplo, se dá por correntes de mensagens e grupos secretos em redes sociais. A crítica ao consumo — tanto literal quanto simbólico — se entrelaça com o funcionamento das plataformas, com a lógica do desejo que se espalha em tempo real, e com a facilidade com que se cria, compartilha e consome o proibido. É uma atualização da violência urbana à la Rubem Fonseca, agora alimentada por cliques, curtidas e emojis.

Obra de Raphael Montes já ultrapassou a marca de 100 mil exemplares vendidos. Imagem: Companhia das Letras / Arte: Escotilha.

Dante é um narrador ambíguo, frio e introspectivo, que lembra os protagonistas das histórias de Luiz Alfredo Garcia-Roza — homens urbanos que tentam manter um verniz de normalidade enquanto são corroídos por dentro. Mas, ao contrário dos detetives éticos de Garcia-Roza, Dante está do outro lado da linha: é cúmplice do horror, agente da degradação moral. E a própria linguagem digital usada no livro reforça esse efeito de dessensibilização, como se o leitor também participasse da banalização do horror.

A prosa de Montes é ágil, cortante, cinematográfica — resultado de sua experiência como roteirista. Criador da série Bom Dia, Verônica (Netflix), sucesso de crítica e público, e autor da novela Beleza Fatal, em exibição na HBO Max, ele domina a lógica do suspense seriado, das reviravoltas pontuais, dos ganchos dramáticos. Em Jantar Secreto, cada capítulo parece escrito para ser visualizado: o ritmo é de thriller, mas o conteúdo é puro pesadelo moral.

Mais do que um romance de horror, Jantar Secreto é um diagnóstico perverso do Brasil: uma sociedade que naturaliza a desigualdade, consome tudo — inclusive pessoas — e transforma até o abjeto em espetáculo. Raphael Montes nos serve um banquete sombrio, hiperconectado e indigesto. E nos convida a pensar se, no fundo, não somos todos um pouco canibais.

JANTAR SECRETO | Raphael Montes

Editora: Companhia das Letras;
Tamanho: 368 págs.;
Lançamento: Novembro, 2016.

COMPRE NA AMAZON

ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA

Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.

CLIQUE AQUI E APOIE

Tags: Companhia das LetrasJantar SecretoLiteraturaRaphael Montes

VEJA TAMBÉM

Pinturas de Emily Brontë e Jane Austen. Imagem: Reprodução.
Literatura

Entre o amor e o abismo: por que ainda lemos Jane Austen e Emily Brontë?

4 de agosto de 2025
Leminski é, mesmo 35 anos após seu falecimento, bastante atual. Imagem: Reprodução.
Entrevistas

Paulo Leminski na Flip 2025: o samurai malandro e seu tempo ainda por vir

30 de julho de 2025

FIQUE POR DENTRO

Kad Merad e Denis Podalydès protagonizam a sensível obra de Costa-Gavras. Imagem: KG Productions / Divulgação.

‘Uma Bela Vida’ é meditação derradeira de Costa-Gavras

5 de agosto de 2025
A trupe de 'O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas': rebeldes sem causa. Imagem: Columbia Pictures / Divulgação.

‘O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas’: o delicioso filme ruim de Joel Schumacher

5 de agosto de 2025
O diretor Robert B. Weide e o escritor Kurt Vonnegut. Ambos conviveram por quase trinta anos. Imagem: Whyaduck Productions / Divulgação.

‘Kurt Vonnegut: Unstuck in Time’ é o documentário definitivo sobre o escritor

4 de agosto de 2025
Pinturas de Emily Brontë e Jane Austen. Imagem: Reprodução.

Entre o amor e o abismo: por que ainda lemos Jane Austen e Emily Brontë?

4 de agosto de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.