A Academia Sueca anunciou, na manhã desta quinta-feira, que o Prêmio Nobel de Literatura de 2025 foi concedido ao escritor húngaro László Krasznahorkai, “por sua obra convincente e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte”, declarou a Academia em seu comunicado oficial.
Nascido em Gyula, Hungria, em 1954, possui diferentes premiações em sua carreira, entre elas o Man Booker International Prize de 2015. A escolha de Krasznahorkai coroa um autor que, desde os anos 1980, vem desafiando os limites da prosa contemporânea. Sua escrita é densa, hipnótica, frequentemente labiríntica — composta de frases longas como marés mentais, que parecem se arrastar pela página até romper, enfim, num tipo peculiar de êxtase.
Em suas narrativas, o fim do mundo não é uma explosão súbita, mas um processo lento, quase burocrático, corroendo silenciosamente o tecido da civilização e da alma. “László Krasznahorkai é um grande escritor épico na tradição da Europa Central, que se estende de Kafka a Thomas Bernhard, e é caracterizado pelo absurdo e pelo excesso grotesco”, disse Anders Olsson, presidente do Comitê Nobel.

Entre suas obras mais conhecidas estão Sátántangó (1985), publicado no Brasil pela Companhia das Letras, The Melancholy of Resistance (1989) e War & War (1999). Esses romances — sombrios, compassados e hipnoticamente detalhados — compõem um retrato filosófico do colapso moral e espiritual do mundo moderno. Krasznahorkai escreve como se Kafka tivesse sobrevivido ao século XX e aprendido húngaro: sua prosa é simultaneamente metafísica e terrena, impregnada de desesperança e de uma curiosa fé na linguagem como último reduto de lucidez.
A prosa de László Krasznahorkai é simultaneamente metafísica e terrena, impregnada de desesperança e de uma curiosa fé na linguagem como último reduto de lucidez.
A notoriedade internacional do autor cresceu após as adaptações cinematográficas de Sátántangó e The Melancholy of Resistance (que no cinema ganhou o título de A Harmonia Werckmeister) dirigidas por Béla Tarr, com quem Krasznahorkai manteve uma colaboração intensa. Juntos, criaram uma das mais marcantes simbioses entre literatura e cinema da Europa contemporânea. Em ambos os casos, a visão de mundo é a mesma: o apocalipse já chegou, mas ninguém se deu conta; seguimos, obstinados, dançando sob a chuva ácida da história.
No Brasil, o público teve acesso a Sátántangó, tradução de Paulo Schiller, publicada pela Companhia das Letras em 2022. O romance — ambientado em uma aldeia miserável onde os habitantes esperam a volta de um suposto messias — condensa o universo característico de Krasznahorkai: o desencanto político e metafísico da Europa pós-comunista, narrado por uma voz que oscila entre o delírio místico e o realismo mais brutal. É uma leitura exigente, mas recompensadora, em que o horror e a beleza se entrelaçam até se tornarem indistintos.
Com o anúncio, László Krasznahorkai se junta a nomes como Olga Tokarczuk, Annie Ernaux e Kazuo Ishiguro — escritores que, cada um a seu modo, reafirmam o poder da literatura em tempos de crise, lembrando-nos de que ainda há beleza e lucidez a extrair das ruínas. O prêmio, que vem acompanhado de 11 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1 milhão), foi comunicado ao autor por telefone, que se encontrava em Frankfurt, Alemanha.
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