Contrariando as previsões da casa de apostas Ladbrokes (indicava que Ngugi Wa Thiong’o era forte candidato) e mesmo de veículos como o jornal The Guardian (que apontava para Margaret Atwood), o Nobel de Literatura 2017 foi para o nipo-britânico Kazuo Ishiguro. Anunciado às 13h no horário local, 8h da manhã no horário de Brasília, pela crítica literária, escritora, professora e secretária permanente da Academia Sueca, Sara Danius, Kazuo Ishiguro nasceu em Nagasaki, Japão, em 1954, mas desde os 6 anos vive na Inglaterra. Para a Academia Sueca, o prêmio destinado ao escritor que, com romances de grande força emocional, “descobriu o abismo sob nosso ilusório senso de conexão com o mundo”.
Kazuo Ishiguro sonhava em ser músico, mas com a rejeição sofrida acabou dedidando-se à escrita, ainda que tenha composto diversas canções para a cantora de jazz Stacey Kent, presentes nos álbuns Breakfast on the Morning Tram (2007) e The Changing Lights (2013). Frequentou a Universidade de Kent, em Canterbury, e a Universidade de East Anglia. Publicou diversos contos e artigos em revistas durante a década de 1980, até escrever Uma Pálida Visão dos Montes (Rocco, 1982). O escritor possui sete romances, todos publicados no Brasil. Atualmente, Ishiguro está no catálogo da Companhia das Letras, por onde saiu seu romance mais recente, O Gigante Enterrado.
Para a Academia Sueca, o prêmio destinado ao escritor que, com romances de grande força emocional, “descobriu o abismo sob nosso ilusório senso de conexão com o mundo”.
Pelos seus romances Uma Pálida Visão dos Montes, Um Artista do Mundo Flutuante (Rocco, 1989) e Os Vestígios do Dia, Ishiguro recebeu respectivamente o prêmio Winifred Holtby da Royal Society of Literature, o prêmio Whitbread Book of the Year e o Booker Prize de 1989. Os Vestígios do Dia chegou a ser adaptado para o cinema, em 1993, por James Ivory, e contava com Anthony Hopkins e Emma Thompson como protagonistas – o filme recebeu oito indicações ao Oscar.
O Japão é figura constante na trajetória do romancista. Em entrevistas, pontuou que parte dessas representações eram imaginárias. “Eu cresci com uma imagem muito forte na minha cabeça desse outro país, um país muito importante pelo qual eu tenho fortes emoções”. Ao discutir o que da influência japonesa em sua educação está presente em suas obras, Ishiguro afirmou ser uma mistura das duas culturas. Para ele, há resquícios remanescentes dos valores japoneses, mas ele vê o mundo de forma diferente de seus conterrâneos. “As pessoas não são dois terços de uma coisa e o restante de outra. O temperamento, a personalidade ou a perspectiva não se dividem assim. Isso é algo que se tornará mais comum com o tempo”, disse, em referência a pessoas com contextos culturais e origens raciais mistas.
Após o anúncio, durante uma breve coletiva, Sara Danius explicou que a premiação foi dada a “um escritor de grande integridade” e “um romancista absolutamente brilhante” que “desenvolveu um universo estético só seu”. “Kazuo Ishiguro está muito interessado em compreender o passado. Não para o redimir, mas para revelar o que temos de esquecer para podermos sobreviver enquanto indivíduos e enquanto sociedade”, acrescentou. A secretária permanente apontou O Gigante Enterrado como sua obra favorita.
O escritor ainda não deu nenhum pronunciamento oficial sobre sua condecoração.