Nascida Lara Fernández Castrelo em Jerez de la Frontera e criada entre Caños de Meca e Barbate, Judeline traz na biografia os elementos com que constrói a sua música: raízes andaluzes, herança venezuelana pelo pai e uma mudança precoce para Madrid que acelerou sua carreira. São dados biográficos simples, mas essenciais para entender a textura do som que ela apresenta.
O álbum de estreia, Bodhiria, foi lançado em 25 de outubro de 2024 e funciona como um atestado das ambições da artista: curta, cerimoniosa e confeitada por produtores contemporâneos que entendem como transformar elementos folclóricos em arquitetura pop sem os dessacralizar. Em suas doze faixas, Judeline costura flamenco, referências árabes e ritmos latino-caribenhos com produção que passeia entre o íntimo e o festivo. O projeto foi divulgado amplamente pela imprensa espanhola e lançado por uma major, o que ajuda a explicar seu rápido trânsito entre palcos locais e internacionais.
No palco, e nos relatos de quem a viu, Judeline aparece menos como estrela tradicional e mais como dramaturga.
No palco, e nos relatos de quem a viu, Judeline aparece menos como estrela tradicional e mais como dramaturga: a seu favor, uma voz de timbre arredondado que se permite dramatizar sem exagero, e um imaginário que convoca castañuelas, quatro venezuelano ((instrumento de cordas de origem venezuelana) e performatividade. Sua passagem pelo festival Coachella em 2025 foi tratada como um marco — a confirmação de que um som tão enraizado pode encontrar público fora da Península. Isso não transforma automaticamente a artista em um fenômeno global, mas sinaliza uma trajetória de projeção rápida e calculada.
Musicalmente, o caminho de Judeline se lê como uma tentativa de conciliar contradições: letras que falam de renascimento e limbo, arranjos que oscilam entre economia e excesso, e uma identidade que se fabrica entre o local e o cosmopolita. Singles como “TÁNGER Y ZAHARA” e “INRI” já circulavam antes do álbum e ajudaram a definir o padrão: pop com verniz folclórico e refrões pensados para ficar. Para a plateia paulistana do ÍNDIGO, isso significará um repertório que alterna delicadeza e pequenos surtos elétricos — ideal para um festival que promete reunir públicos diversos.
Em última instância, Judeline é um caso interessante porque personifica uma nova geração que não teme a hibridação: tradição e trap, castañuelas e sintetizadores, cidade e litoral. Se a pergunta é se ela é “a próxima grande artista” — a resposta exige cautela; mas se a questão é se vale a pena ouvir com atenção, a resposta é inequívoca. Em 2 de novembro, no Parque Ibirapuera, tanto os curiosos quanto os já convertidos terão oportunidade de checar isso ao vivo.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.






