Falar dos esforços de se manter um projeto cultural independente de verbas oficiais, editais e afins não é ser realista, é até um pouco redundante. Colocada em prática, se vencido o desafio de realizar o parto de tal criança, daí vem o de fazê-la crescer com saúde. E, às vezes, a criança anda tanto que parece ter asas nos pés.
O Jornal RelevO foi idealizado por Daniel Zanella, e sua primeira edição circulou em 2010. A ideia era simples: publicar a literatura “made in Paraná“. Nada de uma publicação esporádica ou vinculada a um evento, a ideia era (assim pode ser interpretada) de tirar os autores de suas tocas e publicá-los mensalmente.
Não apenas a ideia deu certo como o jornal mudou bastante sua identidade desde seus primórdios. Sempre publicado de forma impressa, hoje o RelevO tem uma versão digital e é acompanhado pela Enclave, sua “filha” newsletter semanal, que conta dúzias de referências com um humor nonsense ao extremo.
Nesse sentido, a Enclave herdou características diretas do RelevO, que começou como uma publicação voltada principalmente à crônica e passou a abrigar contos, poemas, traduções de músicas e de poemas, críticas literárias, ilustrações, e até um ombudsman, quase peça de museu em nosso tempo. No caso, os ombudsman que passaram pelo jornal faziam análises críticas de publicações do próprio jornal e questionamentos afins, tanto que um deles escreveu que o RelevO publica textos excepcionais, bons e médios, nem sempre fazendo papel de carrasco e elogiando sem passar a mão na cabeça.
Considerando tudo isso, a publicação de um livro-antologia de cinco anos do RelevO é motivo para comemoração.
Considerando tudo isso, a publicação de um livro-antologia de cinco anos do RelevO é motivo para comemoração. Simboliza a longevidade de um veículo cultural impresso em um Brasil que ficou órfão de publicações em papel dedicadas ao segmento, vide a Bravo e a redução de cadernos de cultura em mídias tradicionais – ainda que sejam meios com propostas muito diferentes, notícias de cortes e reduções preocupam.
Simboliza, também, o quanto uma equipe se mobiliza para selecionar textos inacabáveis. Impossível quantificar os aspirantes a escritores, cuja primeira vitrine para um público além do próprio círculo social às vezes pode ser justo em uma pagina do RelevO, competindo com textos de autores tão iniciantes quanto si ou já com alguma experiência (quiçá publicação) pela atenção do leitor.
O livro-antologia é um retrato fiel do que o jornal se tornou: um abrigo para diversas publicações, passeando entre o absurdo, cotidiano, mundano, sentimental, poético, etílico, deboche, sarcasmo, crítico e o que mais couber nos desenhos deste RelevO.
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