O novo longa-metragem do cineasta catarinense Sylvio Back, o documentário O Contestado – Restos Mortais, que estreia nesta sexta em Curitiba, no Espaço Itaú de Cinema, busca dissecar, e problematizar, um episódio histórico fundamental na história do Brasil, sobretudo da Região Sul, sem cair na tentação de oferecer ao espectador um veredito, uma versão única dos acontecimentos. Pelo contrário: é uma obra polifônica, na qual várias vozes se entrelaçam, contradizendo-se, complementando-se, mas, ao fim e ao cabo, oferecendo ao público muito sobre o que refletir.
Falar sobre a Guerra do Contestado em 2012 faz total sentido. Afinal, fazem exatos cem anos que o conflito entre a população cabocla e empobrecida e forças armadas do poder estadual e federal brasileiro foi desencadeado, estendendo-se até 1916, em uma região farta em erva mate e madeira pela qual Paraná e Santa Catarina se digladiaram em um confronto dos mais sangrentos na trajetória do país.
A região fronteiriça a Oeste, entre os estados do Paraná e Santa Catarina, ficou conhecida como Contestado porque a população local, composta por agricultores, não aceitou a decisão do governo brasileiro de, para promover o desenvolvimento da área, antes objeto de disputa com a Argentina, doar extensões de terra a exploradores da madeira e à empresa Southern Brazil Lumber & Colonization Company.
Fazem exatos cem anos que o conflito entre a população cabocla e empobrecida e forças armadas do poder estadual e federal brasileiro foi desencadeado.
Com raízes na indigência em que vivia essa população sertaneja, atropelada por uma política desenvolvimentista a ela alheia, a Guerra do Contestado extrapolou os limites de um confronto político, ou de disputa de terras, ao se impregnar de fanatismo religioso, por parte dos caboclos revoltosos, que dele fizeram uma espécie de guerra santa. Que foi marcada pelo messianismo, assim como em Canudos, ocorrida entre 1896 a 1897, no interior do estado da Bahia.
Em O Contestado – Restos Mortais, Back recorre a três grupos de personagens para construir sua discussão. Dão musculatura acadêmica ao filme historiadores e estudiosos do episódio, que fornecem múltiplas visões do conflito, algumas vezes contraditórias. Também falam descendentes de pessoas que viviam na região durante a guerra, reproduzindo mitos perpetuados há gerações. A mais intrigante é a participação de médiuns catarinenses que estariam incorporados por espíritos de mortos que viveram na carne a intensa violência do conflito, em seus vários lados. Suas falas, incorporadas à narrativa do documentário, criam uma instabilidade, uma dramaticidade que gera dúvidas, mas provoca. Mais informações abaixo.
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