Listas de fim de ano são extremamente subjetivas e, na minha singela opinião, possuem um único valor: apresentar bons discos que talvez perdi ou não prestei atenção durante o ano. Portanto, este texto não é uma lista e nem mesmo busca dizer quais foram os melhores discos de 2015. O que quis fazer, e que acredito ser uma análise que o fã de música também faz, é pensar no que foi 2015 na música. Que som fez esse ano? Foi o ano do hip hop? O pop está no seu momento mais sensual e influenciado pelo R&B dos últimos tempos? Onde foi parar o rock? A música eletrônica definitivamente está presente em todos os estilos nas paradas?
Começamos pela pergunta que me fiz e que não soube responder. Qual foi o grande disco de rock em 2015? Segundo o meu Spotify, parece que foi Positive Songs For Negative People, do Frank Turner, mas penso também em No Cities to Love, do Sleater Kinney. Algum desses discos foi extremamente marcante no ano? Devo admitir que, infelizmente, não. O Alabama Shakes fez algumas músicas que podem até figurar entre as mais interessantes do ano, mas Sound and Color não segura a barra até o fim. Ficou claro durante o ano inteiro que o gênero ficou de lado, e isso não tem nada a ver com o insuportável papo de que “o rock morreu”, tem apenas a ver com a produção de música atualmente e com as próprias bandas que foram lançadas como apostas. Muito mais do mesmo e muita emulação do som do passado, sem nada de original. Nesse sentido, em 2015 foi muito mais legal ouvir o Deafheaven misturando death metal com post-rock ou o Mac DeMarco fazendo lo-fi tranquilo. Ao menos algo de original foi feito e o resultado foi bom.
Por incrível que pareça, o selo de originalidade vale também para um disco cover que tranquilamente foi uma das melhores surpresas do ano. Ninguém esperava quando Ryan Adams anunciou o cover de 1989, da Taylor Swift, e foi difícil de assimilar a qualidade do resultado. Para mim, fica ao lado de Carrie & Lowell, a belíssima obra de Sufjan Stevens, como grande álbum do ano. Ambos os discos são tristes, o de Sufjan especialmente, permeado do início ao fim pela morte, mas trazem conforto e fazem da melancolia um lugar bonito.
Em outros estilos, 2015 foi muito bem servido especialmente na música negra. Kendrick Lamar conseguiu com To Pimp a Butterfly o feito de agradar crítica e massa, repetindo o sucesso do seu álbum anterior. Um disco de rap que vai direto no ponto da violência racial nos Estados Unidos, necessário e relevante em cada segundo em um ano tão cheio de episódios lamentáveis.
Kendrick Lamar fez um disco de rap que vai direto no ponto da violência racial nos Estados Unidos, necessário e relevante em cada segundo.
Ainda no rap, porém mais pop, Drake foi um dos músicos de mais sucesso no ano. Um disco consistente lançado no primeiro semestre e um single matador em outubro. Hotline Bling tocou muito e ainda vai tocar bastante nos próximos meses, para consagrar o trabalho do rapper que pelo menos desde 2011 vem lançando bons discos.
O soul e o jazz também respiraram novos ares em 2015. O jovem Leon Bridges reencarnou Otis Redding e Solomon Burke em seu grande Coming Home e encheu de nostalgia a música. Já Kamasi Washington foi o responsável pela principal obra de jazz do ano, o triplo The Epic, que juntou música contemporânea e experimental em um dos estilos mais clássicos.
Como fez desde a sua origem, a música pop mainstream filtrou do rhythm and blues um pedaço grande de sensualidade e batidas no melhor estilo Marvin Gaye para criar um som que se repetiu bastante no ano. Abel Tesfaye foi talvez a grande surpresa nesse ponto. O The Weeknd há não muito tempo atrás era um projeto em uma página do Soundcloud onde Abel publicava suas mixtapes de R&B. Depois de três mixtapes, as gravadoras o encontraram e vieram dois discos que fizeram pouco barulho. Beauty Behind The Madness ganhou publicidade forte, música na trilha de 50 Tons de Cinza e Abel foi ao estrelato. Marcou topo da Billboard e deixou a música pop bem mais sexy em 2015, estilo em que foi acompanhado por outros jovens cantores pop: Selena Gomez, Justin Bieber, Demi Lovato, Ariana Grande… Todos ex-astros adolescentes que souberam se reposicionar na onda do momento, que junta o som que o The Weeknd já fazia em suas mixtapes quatro anos atrás às produções eletrônicas de batidas minimalistas de gente como Jamie xx, ou às influências globalizadas do DJ Diplo e seu Major Lazer.
Tudo isso reverberou no Brasil. Falamos do rock no começo do ano quando a Scalene movimentou o SuperStar, mas depois as atenções seguiram em discos pop que se influenciaram bastante pela mistura norte-americana e colocaram um ou outro toque brasileiro no meio, como Anitta com o funk e Silva com a MPB. Mas trabalhos originais na cena alternativa merecem a nota no nível nacional. Marcelo Perdido, Esteban, Jair Naves e Bárbara Eugênia lançaram ótimos álbuns, mostrando que há sim algo que vibra fora nos cantos do Brasil.
Foi, no fim das contas, um ano de várias febres passageiras. Cada mês um lançamento dominou as paradas pelo mundo, mas variando quase sempre entre a música eletrônica e o hip hop. Fica a questão da originalidade. É nítido que o rock sumiu, pois não trouxe nada de interessante à essa mistura da cena musical em 2015. Em tempos de streaming, o público está cada vez mais aberto às recomendações e a descobrir novos sons, nunca foi tão fácil. O difícil é surpreender o ouvinte no meio de uma playlist do Spotify a ponto de o levar até o seu disco completo. Quem faz isso está no caminho certo.